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Sobre gostar, ou não, de Sebastião Salgado
Sempre gostei de fotografia e desde 1997 estudo a fundo e estou sempre comprando revistas da área. Sou também aquela pessoa que está sempre atenta aos noticiários. Mas, confesso, só fui saber da existência do famoso Sebastião Salgado uns três anos atrás. Acho isso muito perturbador pois mesmo que eu não fotografasse, do jeito que falam, era para eu saber da existência dele há muito tempo.
Nos últimos dias diversos fotógrafos e jornalistas vêm reclamando de Sebastião Salgado e sua ONG que é financiada por mineradoras. Claro que o desastre ambiental recentemente ocorrido em Minas Gerais (o rompimento de barragem de rejeitos provenientes da extração de minério de ferro, dia 5 de novembro de 2015) é a razão de todos estarem prestando atenção e reclamando das ligações dele com empresas que atentam ao meio ambiente.
Sebastião Salgado – livro Gênesis – fonte internet.Mas, que culpa tem Sebastião Salgado se em nosso país dependemos de financiamento de empresas e elas quase sempre tem algum senão ou porém, como no caso das mineradoras. Se Salgado fosse se preocupar com a veracidade da boa vontade das empresas com o meio ambiente simplesmente ele não tinha feito nada. O que teria sido pior ? Ele se interessa em melhorar o meio ambiente e contar histórias fotográficas financiadas por essas empresas, é o que ele sabe e pode fazer. Cabe a outros correrem atrás de fiscalizar essas empresas, multar etc. Salgado não pode ser responsabilizado de nada, ele está fazendo o papel dele com os meios de que dispõe.
Ou seja, falta do que fazer ficar bombardeando o famoso fotógrafo.
Se me perguntassem se eu gosto das fotos dele aí sim eu responderia de outra maneira. Não, não gosto, não acho ele tão especial fotograficamente falando. Não gosto da edição escura das fotos, embora eu adore fotos escuras. Quando vejo os livros em preto e branco dele, sempre me lembro de uma antiga frase que diz que se a foto está ruim, passe para preto e branco. Beleza com cor é muitas vezes mais difícil. Também não acho o olhar fotográfico dele maravilhoso e pelo que me consta quem escolhe as fotos para livros e exposições não é ele e sim sua esposa. Para mim o próprio fotógrafo deve ser capaz de selecionar suas próprias fotos, claro que em uma ou outra ele pode ouvir sugestões, mas não a maioria de um livro. A seleção faz parte da arte fotográfica.
Outra coisa que ele não faz, que eu saiba, é a edição da foto, ouvi relatos dele em entrevistas onde ele comenta que pede ao laboratorista que faça a revelação\ampliação de determinada maneira, ele supervisiona. Em fotografia digital seria como ele estar ao lado do especialista em photoshop e dizendo a ele como quer a foto. Se por um lado ele demonstra que quer valer sua visão na edição, por outro não se permite criar algo novo, pois não está realmente editando a foto, e só quem edita consegue ver caminhos novos de edição, na hora. Talvez seja por essas razões que ele diga ser apenas fotógrafo e não artista.
Não, não preciso ser um maravilhoso fotógrafo para ter essa opinião, preciso apenas ter bom gosto fotográfico, mesmo que eu mesmo não consiga alcançá-lo em minhas fotos. Ou seja, o eu crítico também criticaria o eu fotógrafo. Então, gosto é gosto e não se discute. Eu não gosto das fotos de Sebastião Salgado, de modo geral claro, porque uma ou outra foto de um livro dele eu elogiaria, mas não o livro todo.
Mas, se no exterior idolatram ele, deve ter algum motivo, mas não ao meu gosto. Dito isso volta-se ao problema inicial que é o vínculo de Salgado com as mineradoras. Não importa quem gosta ou não das fotografias dele, importa que ele é famoso e com isso consegue financiamentos e usa esses financiamentos para melhorar o meio-ambiente. Se o dinheiro vem das próprias mineradoras que geraram a catástrofe recente em Minas Gerais não importa, importa é que se use bem esse dinheiro. Cabe ao Governo as tarefas de fiscalizar, multar, embargar, fechar etc, as empresas que possam causar desastres como esse. Precisamos que ambientalistas, políticos e outros profissionais estejam aptos a fazer suas partes. Ao fotógrafo Sebastião Salgado cabe inspirar iniciativas semelhantes a sua e continuar trabalhando.