Lições de David Alan Harvey sobre fotografia de rua — parte 2
Perdeu a parte 1? Aqui está!
de Eric Kim (1, 2), imagem: The Viewfinder
11. Seja sofisticado
Pretendo tornar-me o melhor fotógrafo que eu possa ser. Isso significa que eu não posso mais comparar mais meu trabalho com fotógrafos do Flickr, do Facebook e do Instagram. Quero comparar meu trabalho com os dos fotógrafos da Magnum — e obter retorno e crítica brutalmente honestos deles.
Existe um dito na Sociologia, que diz “Você é a média das 5 pessoas mais próximas a você.” Se me rodeio apenas de grandes fotógrafos, isso me tornará grandioso (ou poderei aspirar a tal) via osmose. É como andar por uma loja de perfumes: vou naturalmente ganhar uma fragrância, apenas por estar por ali.
Mas simplesmente estar junto dos mestres não é o suficiente. Preciso consumir, respirar e digerir o trabalho dos grandes. Admiro demais a fotografia de rua em cores de David Alan Harvey, e quero elevar meu trabalho em cores ao próximo nível.
Harvey, dividiu, durante o workshop Nowadays photographers must be sophisticated (trad.: “Nos dias de hoje fotógrafos devem ser sofisticados”) como tantos fotógrafos criam grandes trabalhos agora, e é muito fácil obter uma imagem “tecnicamente proficiente”. De fato, é fácil conseguir uma grande imagem hoje, mas não é o suficiente. Um fotógrafo precisa aprender como produzir um corpo de trabalho fechado em si mesmo, uma série de imagens fortes. Algo como um colar onde estão presas pérolas (sendo as pérolas as fotografias).
Por isso quando ele iniciou o workshop e deu-nos críticas, ele disse-nos que estava a dar-nos “amor duro”. Ele disse-nos que ele “não fala asneiras com as pessoas”, e queria criticar nosso trabalho comparando-o ao de fógrafos da Magnum, para dar às pessoas uma avaliação justa de como seus trabalhos colocavam-se por cima de todo o campo da fotografia.
Não á necessariamente justo comparar alguém que vem clicando fotografia de rua há 6 meses com um fotógrafo da Magnum. Ainda acredito firmemente que um fotógrafo deve competir consigo mesmo para ser o melhor fotógrafo que puder tornar-se. Mas, ao mesmo tempo, você precisa questionar-se: “O quão bom quero realmente tornar-me?” Quero tornar-me o melhor fotógrafo que eu puder me tornar, e eu sinto que essa tentativa de vir a ser mais “sofisticado” em meu trabalho está ajudando-me a chegar lá.
Então, durante o workshop com Costa Manos e David Alan Harvey, eu não estava buscando por tapinhas nas costas. Claro que é um grande empurrão no ego para obter um tapinha nas costas, mas é um feedback e uma crítica brutalmente honestos, os quais eu precisava muito.
Daí enquanto eu obtinha retorno de Harvey e de outros fotógrafos da Magnum, pedi-lhes que para desconsiderar meu trabalho e serem brutalmente honestos comigo. Quando eles criticaram meu trabalho, não me defendi ou ao meu trabalho, apenas mantive minha boca fechada e assenti. Pedi-lhes ajuda para encontrar buracos em meu trabalho, e aconselharem-me sobre onde eu poderia produzir.
Ponto-chave:
Pergunte-se: “Quão bom quero tornar-me?” Pense consigo mesmo: você quer mesmo vir a ser um grande fotógrafo? Está disposto a pôr no trabalho duro sangue, suor e lágrimas para elevar sua fotografia ao próximo nível, e possivelmente estar no mesmo nível dos fotógrafos da Magnum?
Penso que reconhecimento externo é besteira e uma via para depressão e a ansiedade. Então torne-se o melhor fotógrafo que puder ser, e tente deixar seu trabalho mais sofisticado. Como você cria mais trabalho sofisticado? Aqui estão algumas dicas de coisas que recomendo evitar:
a) Evite clichês
Você pode começar evitando clichês. Evite fotos simples em preto e branco de pessoas passando por placas de anúncio.
b) Evite imagens soltas
David Alan Harvey interessa-se apenas por séries, projetos e ensaios fotográficos.
Vejo um monte de fotógrafos online apenas tentando criar fortes imagens soltas que vão receber um monte de likes e favoritos em mídia social. Enquanto vejo que existe muito mérito por trás de fortes imagens soltas, também penso que os grandes fotógrafos que jogam-se num corpo de trabalho.
Um corpo de trabalho é uma série de imagens que contém uma afirmação sobre si mesmo, sociedade ou uma mensagem que você está tentando passar adiante para seu espectador. Muito raramente fotógrafos tornam-se grandiosos baseados apenas num punhado de imagens soltas. Claro que há exceções (Elliott Erwitt e Steve McCurry), mas eu ainda sinto que os melhores exemplos são que possuem corpos de trabalho (Josef Koudelka e seu “Gypsies”; Martin Parr e o “The Last Resort”; David Alan Harvey e “Divided Soul”).
c) Evite mostrar imagens ruins
Penso que para construir sofisticação em seu trabalho você não vai querer mostrar imagens ruins. Você precisa editar impiedosamente (compartilhe apenas o melhor de seu trabalho) e deixar que suas imagens assentem-se e fiquem em banho-maria por um bom tempo antes de mostrá-las.
Por exemplo, eu tenho uma regra simples de ouro: levo ao mínimo um ano para desconectar-me de uma fotografia para perceber se ela é boa ou não. Essa regra também dá-me tempo suficiente para sentar com outros fotógrafos cara-a-cara e obter uma avaliação e uma crítica honestas de meu trabalho.
d) Saiba o que faz uma fotografia (e um corpo de trabalho) grande
Para tornar-se um fotógrafo sofisticado, primeiramente você precisa saber o que torna grandioso um fotógrafo.
Como um pequeno exercício, faça o seguinte (inspirado por Charlie Kirk): acesse o site da Magnum e olhe para todas as fotografias em todos os portfólios dos fotógrafos. Veja cada corpo de trabalho e pergunte-se: “O que faz seus trabalhos tão grandiosos? O que torna-os melhores que o meu? Como suas imagens soltas ressoaram frente a tantas outras? Que afirmações seus corpos de trabalho fazem? Qual de suas fotos eu não aprecio ou compreendo, mas que outros gostam?”
Indico fortemente também investir bastante dinheiro que puder em educação fotográfica: com livros fotográficos, workshops e viagens. Claro, não indo comprar mil livros e não lendo nenhum deles, mas cerque-se de grandes fotografias e inspiração. Evite sites de resenhas, rumores de equipamentos, tudo que o levará à SAE (Síndrome da Aquisição de Equipamento [a famosa equipamentite aguda]). Em contrapartida, quando estiver coçando-se para comprar logo uma nova câmera, lembe-se: “Compre livros, não equipos.”
12. Absorva inspiração de outras artes
David Alan Harvey obtém grande parte de sua inspiração de coisas fora do mundo da fotografia. De fato ele diz que não inspira-se muito com fotógrafos. Ele inspirou-se largamente a partir de literatura, pinturas e música.
Ele também ama pintores franceses, porque eles podem “fazer algo do nada.” Mais ou menos como na fotografia de rua: você não necessita de modelos de sonho, duplos arco-íris, pôr-do-sol para criar fotos interessantes. Você pode simplesmente ir para as ruas, e clicar o que quer que lhe interesse.
Seguindo a analogia literária: ele vê-se como um autor, não um fotógrafo. Ele vê-se como um produtor de imagens, e agrupa suas imagens para dar-lhes um contexto mais amplo. Algo como um músico que põe sua música em um álbum, num corpo de trabalho maior, como um tema mais abrangente.
Mesmo quando chega-se ao ponto da composição, ele vê como “escrever sentenças.” No entanto, não é apenas porque você escreve boas frases que significa que pode escrever um livro.
Ele, portanto, enxerga o ato de colocar juntas as fotos como a coisa mais importante (ao invés de apenas produzir fortes imagens soltas). Em um livro, você necessita de uma narrativa: precisa de um começo, um meio e um fim. Isso não é possível com apenas uma sentença.
De forma similar, na fotografia se você quer construir uma narrativa, você necessita de uma série de imagens que costurem um começo, um meio e um fim. E a sequência importa, é importante.
Ponto-chave:
No final das contas, a fotografia é só mais uma forma de arte e comunicação. E com a fotografia você quer comunicar algo ao seu espectador. Seja isso uma ideia, uma emoção ou um conceito.
Acho que os melhores fotógrafos são os que obtêm suas inspirações de campos externos e díspares (música, literatura, pintura, escultura, filosofia, sociologia, economia, psicologia etc). Dizem eles que criatividade é apenas juntar dois diferentes conceitos e ideias, e sintetizá-los de uma forma nova e romanceada.
Então, atualmente obtenho minha maior influência da filosofia, da psicologia e da sociologia. Em minha fotografia de rua, estou procurando entender a humanidade e as interações sociais. Termino vendo-me menos como um fotógrafo, e mais como um sociólogo com uma câmera como minha ferramenta de pesquisa.
Então não constranja-se porque você olha apenas fotografias para obter inspiração. Minha sugestão: siga sua curiosidade. Se existe algo que lhe interessa, siga como um cachorro que segue um perfume. Seja obsessivo. Consuma as artes como se estivesse esfomeado e de repente descobrisse um bufê no meio de um deserto. Se de alguma maneira você gosta de decoração de interiores e design, veja e estude isso. Talvez molde como você cria espaços internos em suas fotografias. Se você curte engenharia ou ciência, talvez isso possa ajudá-lo a melhorar suas composições em sua fotografia. Se gosta de poesia, talvez ajude-lhe na edição e sequenciamento de suas imagens. Se aprecia História, talvez possa ver suas fotografias como documentos históricos.
13. Limitações são liberdade
Hoje em dia odiamos limites. Queremos ser “sem limites”. Não queremos quaisquer restrições em nossa vida, ou relacionamentos ou nossa fotografia.
No entanto, uma coisa que realmente inspirou-me foi como David Alan Harvey disse “Limites são liberdade”.
a) Limitações no equipamento
Por exemplo, ele clica apenas com uma objetiva (grosseiramente falando, uma equivalente a 35mm). Isso significa que ele já tomou a decisão sobe que tamanho terá a tela (se você usar uma analogia de pintura).
Algumas vezes pintores estressam-se porque não sabem que tamanho de tela vão utilizar para pintar. Mas se você pré-selecionar seu tamanho de tela, você pinta dentro daquela restrição. O mesmo ocorre na fotografia, optando por uma única câmera e uma objetiva: você determina uma limitação para si mesmo, a qual ao final lhe dará mais liberdade. Você sabe a qual equipamento você está limitado, então não estresse quanto a que câmera ou objetiva usar nesse dia. E assim que você interioriza tal delimitação, não tem mais qualquer desculpas, simplesmente sai e clica.
Ele ainda disse o seguinte:
“Muitas escolhas vão estragar sua vida. Trabalhe em uma coisa, e daí expanda sua tela.”
Outro bom exemplo: Harvey disse-nos que essa delimitação de equipamento é libertadora, no sentido de que ele pode dançar enquanto ele um drinque. Disse que se você tem um monte de câmeras e uma objetiva zoom, você não pode dançar.
Então nosso melhor ativo como criativos e fotógrafos é esse: nossos limites.
b) Limitações em área
David Alan Harvey também limita as áreas nas quais ele clica. Por exemplo, quando ele estava fotografando a Copa do Mundo no Brasil, ele fez a maioria de seus cliques em até uma milha ou próximo disso a partir de seu hotel. Ele disse que isso ajudou-o de várias formas: ele conservou sua energia (já não é jovem como costumava ser) e acredito que isso forçou-lhe a ser mais limitado com a tela ou a área que poderia fotografar.
Posso relacionar isso ao seguinte exemplo: há cerca de 3 anos Jacob Patterson, da galeria ThinkTank em Downtown LA, apareceu com uma competição/exibição de fotografia de rua. Você era permitido de fotografar apenas numa área de quadra (ambos lados da rua) no Fashion District em Downtown LA. E tinha que apresentar suas melhores 3 imagens para apresentação. À primeira vista, isso foi bastante frustrante. Eu queria ter mais liberdade para vaguear pelas ruas. Mas cedo descobri os benefícios: você passa a conhecer estupidamente bem a área, faz amizades com os locais, e ainda é forçado a ser mais criativo numa área limitada como aquela, ou espaço, tela. Ultimamente eu mesmo (além de outros) tenho criado fortes trabalhos em cerca de um mês de cliques apenas em uma quadra como essa.
Às vezes quero não ter limites quanto à área que clico. Fico entediado muito facilmente com a área — eu adoro novidade. No entanto, andei começando a perceber os benefícios de limitar sua locação ou área que clica. Isso lhe ajuda a conhecer muito melhor uma área, e construir um corpo de trabalho com mais consistência. Os melhores projetos que vi são geralmente focados em um sujeito ou uma locação.
c) Limite sua direção
Quando David Alan harvey vê uma boa cena, ele quer fotografar, e limita sua direção.
Por exemplo, quando ele trabalhava num livro sobre a cultura hip hop ele ganhou acesso a um clube de strip no Bronx, em Nova York. Ele seguiu a galera [que acompanhava no trabalho] e deixou a câmera apontada sempre para a mesma direção todo o tempo. O grupo logo começou a ignorar sua presença, e em todo o período David estava trabalhando na cena. Penso que nas poucas horas em que ele esteve ali, tirou mais de 600 fotografias.
Penso que quando você vê uma boa cena em fotografia de rua (uma interessante situação, ou parede, ou área), [é uma boa] manter seus olhos fixos naquela área, e ver como você pode extrair uma grande foto daquela área. Possivelmente você poderá construir interessantes primeiro plano, plano médio e fundo. Você espera que os sujeitos ao fundo movam-se, até obter o perfeito arranjo dos elementos no quadro.
13. Não fique facilmente satisfeito
Penso que se você quer ser de fato um grande fotógrafo, você não pode ficar facilmente satisfeito.
Uma das coisas que Harvey dividiu conosco é o lado ruim de clicar com digital, no sentido de que um monte de jovens fotógrafos satisfazem-se muito rapidamente olhando para o LCD. David compartilhou o maior erro que muitos fotógrafos jovens cometem: parar cedo demais.
Por exemplo, quando ele vê uma boa cena fotográfica, ele tira dúzias (ou mesmo centenas, se necessário) de fotografias daquilo. Ele clica em digital agora, e isso deu-lhe ainda mais liberdade para tirar mais fotos de uma cena — para obter de fato a imagem perfeita.
O problema em olhar para seu monitor LCD enquanto clica (ou seja, chimpar) é que isso mata seu fluxo. Olhando logo para seu LCD você se satisfaz com muita facilidade com o que tem (em lugar de pensar que pode obter um clique melhor). Esse é atualmente um dos maiores benefícios de clicar em digital para mim: não satisfazer-se facilmente e manter a pressão, porque estou incerto se eu “consegui o clique.”
Penso que há um grande “mito do momento decisivo” em fotografia de rua, no sentido de que achamos que as grandes fotos da História foram tiradas com apenas um clique. Na verdade, se você olha para os copiões (contact sheets) da Magnum, você pode ver que as maiores fotos da história frequentemente demandaram muitas tentativas de fotógrafos “trabalhando na cena” para obter a imagem perfeita.
Ponto-chave:
Não fique satisfeito facilmente com sua fotografia. Como disse Steve Jobs, “Continue com fome, continue bobo.” Mantenha a pressão, mantenha-se empurrando suas fronteiras. Não se satisfaça com o que já tem, aspire ser ainda melhor — para tornar-se um fotógrafo ainda maior.
O segundo em que você está satisfeito com sua fotografia é o segundo em que torna-se complacente. Acho que o maior segredo do sucesso na fotografia (e na vida) é esse: evite a complacência. Prossiga criando um trabalho ainda melhor, reinvente a si mesmo, a seu processo, o que o levar ao próximo nível.
E não chimpe.
Como disse David Alan Harvey no workshop: “Não pare, p****. Não pare logo. Esprema a última gota do limão.”
14. Sobre levar suas fotos ao próximo nível
Este ponto expande um pouco o ponto anterior.
David Alan Harvey trabalha duro. Muito duro. Quando ele está por aí clicando, ele fica 14-16 horas nisso. Só que o que ele está realmente buscando com isso são apenas três boas situações. E uma vez que ele encontra tais situações, ele vai “trabalhar infinitamente na cena.” De fato, ele menciona que um monte de fotógrafos que ele conhece ficam frustrados com ele, porque ele clica até não poder mais apenas para fazer uma fotografia (clicando dizias, quando não são centenas).
Ele quer tirar suas fotos um paso além. Ele disse-nos uma analogia com o ato de um pulo: um pulo de pouco mais de 2m é um bom pulo, mas… “se 20 pessoas podem pular nessa altura, você quer ser o cume. Quer pular ainda mais alto.”
Ainda sobe o último ponto: ele não desperdiça sua energia movendo-se demais pra lá e pra cá numa cidade. Ele buscará por umas poucas e boas áreas e extrair delas todo seu valor. Ele deu-nos um conselho:
“Não caminhe e busque por fotos. Não desperdice energia. Fique em algum lugar até que você o esgote”
Ele pretende evitar a complacência. Ele disse:
“Não siga para o ‘bom o suficiente’. Se você é um piloto de corridas de carro, você quer dirigir 1/15s mais rápido. Um pouco melhor é completamente melhor.”
David Alan Harvey menciona a importância de seguir para as fotos de nível máximo. Disse-nos (estou parafraseando):
”Algumas pessoas possuem uma ligeira ultrapassagem. Isso é claro, porque elas são as que têm seus livros publicados. Então estude as pessoas do topo, não crie seus padrões a partir de um grupo do Flickr. Estude os mestres, do passado até o presente. Estude a diferença entre os melhores fotógrafos. Critique seu trabalho comparado aos melhores. Não cale-se. Não siga apenas para o ‘OK’. Seja melhor que as fotos que você já viu. Siga em direção ao melhor que o seu melhor.”
Ponto-chave:
Imagine-se como um atleta (não como um fotógrafo). Você quer uma pequena vantagem, mas é esta pequena vantagem numa performance de topo que fará toda a diferença.
Se você é um levantador de peso olímpico e você pode levantar em suas mãos 600 libras, levantar 602 libras pode fazer toda a diferença. Se você é um maratonista, e você pode correr um centésimo mais rápido, isso fará toda a diferença. Se é um escritor e pode publicar por aí suas sementes em um livro por ano, você é o cume.
Se é um fotógrafo e você faz seu trabalho apenas um pouco melhor do que outras fotos que você já viu antes, você tem o topo.
Evite o “bom o suficiente”, vise o melhor.
15. Tenha algo a dizer
Como autor, você quer ter algo a dizer. Sendo um fotógrafo, dá no mesmo. Você não quer apenas tirar fotos de qualquer coisa nas ruas, só porque é estranho, engraçado ou divertido. Você pretende dizer algo mais profundamente.
Os melhores autores põem seus corações e almas em seus trabalhos. Eles mostram ao mundo suas perspectivas únicas, suas visões, e deixam-se vulneráveis. Como um fotógrafo, você quer compartilhar com o mundo sua visão única. Não quer simplesmente imitar outros e o trabalho que você já viu pelo mundo.
Como você vê diferentemente o mundo? Como sua visão é única? O que você quer dizer (que não foi dito antes)? Você quer tornar-se um grande fotógrafo? Porque isso dá bastante trabalho. Você quer levar sua fotografia ao próximo nível, ou quer ser apenas um hobbista? O que você tem a dizer sobre o mundo?
David Alan Harvey disse perfeitamente isso: “Você não pode ser um autor sem que tenha algo a dizer.” Ele também deu-nos esse conselho (estou de novo parafraseando):
“Acabe por ter a cara de suas fotos. Fotógrafos da Magnum fotografam quem eles são. Alex Webb possui uma abordagem intelectual. Ele e Henri Cartier-Bresson recuam frente a pessoas, e não bebem cervejas com as pessoas (enquanto eu o faço). Você deve mostrar sua personalidade em suas fotos. Cindy Sherman, Dwayne Michaels e Sally Man fazem bem isso.”
Ponto-chave:
Não acho que haja qualquer coisa como “objetividade” em fotografia. Você decide o que incluir no quadro, e o que excluir. Portanto, a fotografia é sua própria visão única, e perspectiva do mundo. Você escolhe a distância focal, onde ficar, e quando apertar o disparador.
Como fotógrafo de rua, você não possui as mesmas obrigações éticas de um fotojornalista ou fotógrafo de documentário. Você que dar seu ponto de vista único.
Se você pode ver-se através de suas fotos, você cumpriu sua meta.
Henri Cartier-Bresson foi primeiramente pintor, depois um fotógrafo. Ele chamou suas fotografias como apenas pequenos esboços da vida cotidiana. Ele estava mais interessado em desenho/pintura do que em fotografia. Era imensamente obcecado com composição, e demonstrava isso em seu trabalho. As fotos de Daido Moriyama são sombrias e nervosas, e possuem um sentido de solidão, desespero e confusão. Isso funciona bem em seu trabalho enérgico em preto e branco, no qual ele anda errante.
Jacob Aue Sobol suplica por intimidade, você vê isso em suas imagens. Ele fica perto de seus sujeitos, ele os fez confiarem nele. É bastante direto e confrontador.
Bruce Gilden é um áspero e duro nova-iorquino. Ele é criticado pela forma como clica, mas isso é como ele é. Ele é uma pessoa imprudente e bastante franca.
Martin Parr é um crítico social. Você pode ver isso através de suas imagens, que não são retratações positivas de humanidade e sociedade.
Então sobre o quê sua visão é única, e o que você está tentando dizer?
16. Capture alma e emoção
David Alan Harvey é um fã de Diane Arbus, no sentido de que ela “…captou as almas das pessoas em fotos.”
Ele disse-nos também o seguinte:
“Você precisa de fotos que ‘gritem algo.’ Precisa de ódio, tristeza, medo, e emoção. Você necessita de sangue extremo, morte, ou seguir muito, bastante quieto e brando, ou com fotos misteriosas. Você precisa seguir de uma forma ou outra. Fotos podem ser esotéricas ou específicas. Não pare logo cedo.”
Harvey ainda deu o seguinte empurrãozinho:
“Trabalhe em algo com o qual você esteja pessoalmente conectado. Compondo luzes e sombras, dane-se. Tenha algo a dizer.”
Ponto-chave:
Acho que uma foto sem emoção é uma foto morta. Claro, você pode criar aquelas camadas maravilhosas, composições, luzes, cores, sombras etc nas fotos, mas se elas não possuem um sentido mais profundo do que isso significa para ser humano, que importa?
Penso que as melhores fotos são aquelas emocionais, aquelas que possuem alma. Fotos que o atingem no coração, e queimam-se em sua mente.
Como seres humanos somos seres sociais e emocionais. Se podemos atrelar essa parte visceral do que significa ser um ser humano às nossas imagens isso criará imagens muito mais memoráveis e significativas.
17. Não ferre tudo
Um dos estudantes no workshop trabalhava como fotógrafo de casamento. David Alan Harvey disse que fotógrafos de casamento atualmente criam fortes fotógrafos, por causa do seguinte raciocínio:
“Fotógrafos de casamento são bons. Eles precisam captar o momento. Não podem ferrar tudo. Fotógrafos de casamento não podem ser preguiçosos, eles precisam ir até o momento, e entender a luz. Existem hoje um monte de bons fotógrafos que vieram da fotografia de casamento. Os fotógrafos de casamento são os novos fotojornalistas da época. A geração antiga era toda de fotógrafos de jornal (mas eles estão morrendo).”
David Alan Harvey falou ainda sobre a importância de ter pressão e disciplina na fotografia:
“Você não pode conseguir boas fotos sem disciplina, trabalho árduo e pressão. Você precisa ser forçado um pouco, precisa de uma pequena pressão para fazer boas imagens.”
Ponto-chave:
Uma vez ouvi a frase “A pressão produz diamantes.”
Eu acredito firmemente nisso. Se não tivesse um público para minha fotografia, não trabalharia duro para criar boas imagens, e editá-las brutalmente. Similarmente, uma das maiores razões porque trabalho arduamente escrevendo e blogando é porque eu sei que eu tenho você como leitor para servir e ajudar — e uma comunidade depende de mim escrevendo constantemente.
Fotógrafos de casamento frequentemente são imorais. Conheço muitas pessoas que são esnobes fotografando casamentos. Mas, honestamente, se você clica casamentos e é desprezado por outros fotógrafos, danem-se eles. Você trabalha duro. Você tem a pressão para produzir imagens fortes para servir a seus clientes. Evite fotógrafos esnobes.
Mas, enfim, voltando ao ponto: lembre-se que a vida não é fácil. Penso que foi Marco Aurélio quem disse certa vez que “A vida é mais como lutar do que dançar.”
Se você realmente quer tornar-se um grande fotógrafo (nem todos conseguem), você precisa impulsionar-se, ter pressão, e restrições.
Por exemplo, conheço muitos acadêmicos que não conseguem ter o trabalho feito sem um prazo de entrega. De forma similar, se você marca um limite de tempo isso vai fazê-lo trabalhar num projeto (por exemplo, um workshop fotográfico de uma semana) — você será forçado e pressionado a fazer boas fotos.
Por exemplo, quando fiz o workshop com David Alan Harvey, eu tecnicamente tive apenas duas noites para trabalhar em meu projeto. Estava bastante estressado e pressionado, mas isso forçou-me a trabalhar duro e produzir boas fotos. Terminei indo num bar em Provincetown chamado The Old Colony, tomei várias cervejas, levei minha câmera por lá e estourei minha zona de conforto para produzir retratos de pessoas dentro do bar. Falei com estranhos com os quais eu normalmente não ficaria confortável, mas ao final tive um bom tempo com eles, tendo conversas introspectivas, enquanto também fazia boas fotos.
18. Mantenha a simplicidade
Um dos maiores pontos-chave (e pequenos conselhos sobre a vida) que obtive no workshop com David Alan Harvey foi para manter a simplicidade.
Ele disse-nos que quase todos os grandes projetos fotográficos na História tiveram um conceito encantadoramente simples — mas foram executados belamente bem. Atualmente um monte de fotógrafos seguem para projetos muito complexos em suas fotografias. Mas é a simplicidade que lhe dá foco e direção.
Por exemplo, Harvey, Costa Manos e Susan Meiselas gostaram de todo o meu projeto Suits, porque era simples (fotografei ternos [em pt-PT: fatos]), e ele tinha um estado de espírito consistente (sombrio, deprimente). Eles todos encorajaram-me a continuar a trabalhar nisso — como era um projeto simples, porém forte, eu poderia fazê-lo bem.
Ponto-chave:
Quando você estiver trabalhando num projeto de fotografia, evite a abordagem de escola de arte. Não siga tendo em mente alguma supergrande ideia ou conceito. Mantenha simples. Faça fotos que “batam” com seu tema e sejam facilmente compreensíveis (mas bem feitas).
Uma abordagem é a “tipologia”, na qual você literalmente fotografa um assunto único. Então, por exemplo, em meu projeto Suits eu simplesmente fotografo homens vestindo ternos (paletó e gravata). Para o projeto Gypsies, Josef Koudelka viajou, viveu e fotografou por 10 anos as pessoas de Roma (termo politicamente correto para os gypsies — em português, ciganos).
Uma outra abordagem é baseada na localização. Você pode simplesmente fotografar e documentar uma área ou locação. Por exemplo, no The last resort de Martin Parr, ele fotografou a Brighton Beah no Reino Unido por alguns poucos verões. Outro exemplo, William Eggleston produziu a maior parte de suas fotografias na cidade em que vive, e projeto e tema de seu trabalho são baseados apenas nessa área.
19. Junte seu trabalho pessoal com o profissional
Eu tenho um monte de amigos da fotografia que trabalham como fotógrafos profissionais, ficam esgotados e dizem-me que que não têm tempo de trabalhar num trabalho pessoal.
Entretanto um grande ensinamento que ganhei de David Alan Harvey foi esse: “Junte seu trabalho pessoal com seu trabalho profissional.”
Harvey disse-nos que é um mito que todos esses fotógrafos da Magnum teriam tempo ilimitado para trabalhar em sua fotografia pessoal em paralelo. Em lugar disso, eles poderiam tocar seus trabalhos pessoais quando em exercício, ou nas horas vagas.
Por exemplo, Elliott Erwitt tem muito de seu trabalho profissional feito durante sessões comercial (quando ele vê algo excêntrico ou um acontecimento estranho). Eu mesmo conheço alguns fotógrafos que fazem interessantes em ‘fotografias de rua’ escondidas enquanto clicam um casamento (em paralelo).
Se você trabalha em um negócio (ou algo não-relacionado a fotografia) tente juntar seu trabalho profissional com sua vida diária. Se você trabalha em um escritório, experimente trabalhar num projeto em escritórios (veja o livro Office de Lars Tunbjork). Se você trabalha como médico, veja se pode documentar sua vida diária como médico, ou talvez ainda fotografar seus pacientes (fora do consultório). Se trabalha como professor, fotografe seus alunos (se possível). Se for um estudante, produza uma série ‘autodocumentário’ sobre sua vida de estudante, e clique seus amigos.
Penso que o segredo de ser um grande fotógrafo é ter sua fotografia acomodada em sua vida cotidiana, em lugar de acomodar sua vida diária à sua fotografia.
Pessoalmente, apesar de eu ser tecnicamente um “fotógrafo de rua em tempo integral”, no sentido de que tenho minha vida ensinando em workshops de fotografia de rua, muito raramente eu tenho imensos períodos de tempo para perambular e clicar. Como você, tenho que responder emails, tratar de minhas finanças, ir para a mercearia para comprar leite e ovos, mandar recados, encher o tanque do carro, levar Cindy para sua aula, e todas as coisas da vida diária.
Daí o que faço é fotografar em toda oportunidade que tenho. Vou para uma loja num shopping para comprar um relógio, e pergunto à/ao vendedor(a) se posso tirar um retrato. Dirigindo por aí, vejo uma paisagem urbana interessante, saio, dou um clique. Algumas vezes estarei preso no trânsito, e fotografo de dentro do carro (olhando para fora, parecido com a série America by car, do Lee Friedlander). Se estou num jantar com a Cindy, vou tentar um retrato artístico dela.
Independentemente do quanto você esteja ocupado, não crie pretextos, faça fotos.
20. Termine
De acordo com David Alan Harvey, um outro grande erro que muitos fotógrafos cometem é o seguinte: eles não mantêm algo o tempo suficiente, e não concluem. Ele disserta:
“Fotógrafos tendem a não terminar. Eles começam, mas não terminam. Relacionamentos com projetos são como relacionamentos com alguma pessoa. É fácil ficar apaixonadamente envolvido no começo, com um bom vinho e jantares à luz de vela. O mesmo [ocorre] com um projeto fotográfico: no começo você está interessado,e daí a maioria cai fora. Pessoalmente eu só termino uma de dez nas coisas que começo, as que são bastante boas. Entretanto a maioria das pessoas não tocam qualquer uma das 10. Termine!”
David explica sobre o longo processo de trabalhar em um projeto ou livro:
“O primeiro projeto fotográfico em que você trabalho é como uma palpitação de amor, é fácil. Mas prosseguir todo o caminho até um um livro ou todo a trilha para 60 anos de casado dá no mesmo: termine todo o longo processo para produzir um livro. Você precisa de força.”
Ele também faz uso da analogia do lado esquerdo do cérebro (que é geralmente associado ao lado analítico e racional) com o lado direito (o lado mais artístico):
“Você precisa clicar com o lado direito do cérebro (paixão). Para terminar, você necessita usar o lado esquerdo do cérebro para ter isto feito. Se você não consegue, você precisa de ajuda. Todo mundo tem ambos lados. Perceba qual é seu ponto mais fraco, e tenha alguém auxiliando-o com este lado.”
Harvey explica a importância de ter um parceiro que ajude lhe:
“Com Sebastião Salgado, sua esposa amarra seus sapatos, e é sua agente de negócios. Então se você não possui qualquer senso de negócios, tenha uma esposa ou marido para tocar o lado de negócios das coisas. Ter um parceiro de verdade é o caminho a seguir. É bem difícil ter alguém dedicado a você por tantos anos. Pense cuidadosamente sobre quem você escolhe.”
21. Sobre edição
Alguns conselhos que David Alan Harvey dá sobre edição (escolha de suas melhores imagens):
- Harvey recomenda o Photo Mechanic (ou o Lightroom), o que funcionar para você;
- Não clique em p&b e colorido na mesma série;
- Quando enviar suas fotos para críticas, não envie mais que 10 fotos por dia (menos é melhor);
- Trate cartões de memória como filme. Mantenha seus cartões flash, e não apague qualquer arquivo. Seu cartão é o melhor disco rígido, porque eles são mais robustos e improváveis de quebrarem-se como um disco rígido giratório — mas tenha em conta que, eventualmente, tudo vai falhar (é importante ter múltiplos backups). DAH mantém todos seus cartões original em bolsas ziplock;
- Quando compartilhar suas fotos para críticas, crie uma “edição A” (suas melhores imagens) e uma “edição B” (suas fotos ‘talvez’, sobre as quais não tem certeza);
Quando estava apresentando seu trabalho, ele disse-nos: “Você quer apresentar o melhor trabalho que você consegue.”
22. Sobre imergir-se em um grande trabalho
Uma frase de Harvey que eu gostaria de dividir, que achei inspiradora, além de perspicaz na construção de seu gosto pela boa fotografia:
“O melhor é imergir-se em todos os grandes livros de fotografia que tenham sido feitos. O tanto mais de livros você lê é como o tanto mais de músicas que você escuta: se você olha para um monte de fotos, você inconscientemente sobe seu gosto a um nível superior. De repente, quanto mais experiente você fica, as pessoas que você gostou de início você começa a não achá-los tão bons.”
Então, mais uma vez, olhe para o trabalho dos mestres, e invista em bons livros fotográficos. Atualmente logo de cabeça os livros que recomendo a todos comprarem são:
- Exiles, de Josef Koudelka
- The last resort, de Martin Parr
- Veins, de Jacob Aue Sobol/Anders Petersen
- The americans, de Robert Frank
- Magnum contact sheets
Harvey ainda compartilhou isso: “O livro é a meta final de um fotógrafo”, e isso será sempre um fato.
Ponto-chave:
Frequentemente fico ansioso por querer muita validação, via likes/favoritos em mídias sociais. Mas quem liga para meu Facebook, Flickr ou Instagram, daqui a 50 anos ainda estará por ali? Duvido.
Mas livros permanecerão. Espero produzir ao mínimo um bom livro de fotografia antes de morrer, daí terei cumprido meu trabalho como fotógrafo.
Faça, então, de sua meta como fotógrafo criar ao menos um bom livro antes de vir a falecer. Divided soul, de David Alan Harvey (que penso ser seu melhor trabalho) tomou-lhe 10 anos para ser concluído. Gypsies, de Josef Koudelka levou cerca de 10 anos. Wonderland de Jason Eskenazi tomou-lhe também cerca de uma década. Isso não significa necessariamente que você tem que levar tanto tempo para criar um grande projeto (The last resort de Martin Parr levou dois anos), mas grandes trabalhos frequentemente tomam um longo tempo. Então fique correndo, leve o tempo que necessitar. Eu calculo que se você conseguir produzir uma boa foto por mês para seu projeto, você pode ser capaz de produzir um bom livro em 3-5 anos. E se você levar 10 anos, focado em apenas um projeto, você vai criar um livro bom demais (se trabalhar duro e editar impiedosamente).
Você pode ver alguns livros recomendáveis de fotografia de rua em meu site [link ao final].
23. Evite besteiras negativas
David Alan Harvey menciona que existe muita negatividade na fotografia. O que ele disse no workshop:
“Fotógrafos irritados sempre vão procurar algo errado com o sistema, e comerem-se vivos. Evite as besteiras negativas. Faça suas melhores imagens, e almeje por exposição numa revista.”
É fácil ser pego pela negatividade e besteiras quando trata-se de mídias sociais. Existem montes de fotógrafos negativos, insatisfeitos e frustrados que afogam suas mágoas em tópicos do Flickr, grupos do Facebook, fóruns online etc.
Ponto-chave:
No lugar de focar na negatividade, foque na positividade. Cerque-se de outros fotógrafos inspirados que investem mais tempo produzindo imagens do que reclamando sobre o mercado fotográfico e fofocando sobre outros fotógrafos.
24. Sobre trabalhar em projetos
Harvey vai além, dando montes de bons conselhos sobre trabalhos em projetos, livros, revistas etc. Ele fala sobre como um fotógrafo pode trabalhar em termos de publicação de seu trabalho:
“Nós devemos tentar levar nossas fotos ao nível de revista, e daí para livro/exibição, e a seguir impressão de colecionador.”
Como ter seu trabalho em revistas
David também deu algumas boas dicas sobre como ter seu trabalho em revistas: primeiramente, tenha uma ideia, e se você fizer sua tarefa de casa, apresente a ideia. Não fale sobre fotos em potencial você vai produzir, fale para eles a história que você quer captar. Revistas interessam-se por histórias, não apenas fotografias.
No que diz respeito a conseguir uma publicação, ele deu-nos o seguinte conselho:
“É sempre melhor ter algo em progresso para ter uma publicação. Tenha uma história única na qual já esteja trabalhando. Ninguém lhe dará espaço numa revista baseado em seu portfólio.”
Ele diz que revistas precisam saber que você já está resiliente como fotógrafo, e possui a tenacidade para trabalhar em um projeto sob pressão. Então, por consequência, mostrando seu trabalho em andamento, você já mostra do que é capaz.
Ao trabalhar em projetos
Abaixo estão algumas dicas práticas em relação a trabalhar em um projeto:
- Em um projeto, evite fotos que sejam similares demais
- “Você necessita ou não de variação em seu projeto fotográfico.”
- Você precisa de um ‘corpo de trabalho’, como colocar juntos uma série de poemas.
- Metade da batalha é ter um sentido de propósito, uma boa ideia e um bom título.”
- “Uma vez que você escolhe o tamanho de sua tela, você tem toda a liberdade do mundo.” (tamanho da tela como a câmera, objetiva, equipamento, assunto, espaço)
- “Fácil é difícil. É difícil chegar ao fácil.”
- Não seja arrebatado por muitas histórias. Apenas foque em uma.
- “Não pense demais nessa m…”
- Grandes fotógrafos possuem uma ideia simples. Ansel Adams apenas escolheu Yosemite. A maioria parte dos fotógrafos escolhem um sujeito realmente simples.
- “Você pode fazer seus projetos complexos em algum nível, mas não os deixe complicados.”
- “O maior engano que fotógrafos cometem: não sinta-se como se necessitasse ser uma enciclopédia. Apenas atinja o coração de uma história. Faça apenas uma coisa!”
Criando um título
Quando está criando títulos para seus livros, David Alan Harvey tira inspiração da literatura. Por exemplo, ele obteve seu título Divided souls de um livro que ele leu.
Outra estratégia é escrever palavras-chave (baseadas em cultura ou literários). Por exemplo, Paixão, Sangue, Machismo. Encha seu cérebro com palavras-chave,e logo bons títulos vão surgir em sua cabeça, e virão como um relâmpago ou insight. Não é um processo linear. E é realmente importante você ter um bom título.
Concluindo projetos
Ele também deu-nos o conselho de que trabalhando em um projeto de, digamos, 50 imagens, as primeiras 10 são fáceis. As últimas 40 são realmente difíceis, por você estar competindo com as 10 primeiras imagens. Muitas imagens vão substituir as primeiras 10 imagens.
Ele disse ainda: “As fotos agora precisam ser muito sofisticadas, então ter apenas um livro de fortes imagens solitárias não é o bastante.”
25. Sobre tecnologia (clicando com iPhones)
David Alan Harvey é bastante progressista no que tange a tecnologia e fotografia. Por exemplo, para seu Based on a true story no Rio ele clicou com uma Leica M9, uma Panasonic GF-1 e por vezes um iPhone. A ferramenta não importa muito para ele.
Isto foi o que ele disse sobre os benefícios de clicar com um telefone:
“Mais cedo ou mais tarde, vamos todos tirar fotos com o telefone. É parte de nosso corpo. Você o liga rapidamente, a qualidade é boa, você não consegue dizer a diferença uma vez que tem impresso numa revista. Os únicos problemas com os telefones é que você não pode obter uma profundidade de campo rasa. Mas você pode usar uma DSLR para fotos com pequena profundidade de campo. Com um telefone, há certamente um tipo de perda que você sofre. Se todos clicam com telefone, nós faríamos tudo melhor. Você pode dançar com seu telefone, é o telefone é bom para trabalhar.”
Ele descreve ainda a experiência de clicar com um telefone:
“Você pode usar o telefone como o visor de uma câmera 8×10, como olhar por um vidro fosco. Eu não uso mais tanto o visor, prefiro a visão ao vivo [Live View]. Não há uma máquina intermediando ao clicar com um telefone. Se eu pudesse escolher meu setup ideal, eu usaria uma Leica digital (por ser simples e ter bem poucos dials), e um telefone para tudo o mais. Eu ainda enfiaria minha Mamiya 7 e a Bessa para filmes. Colocaria minhas outras câmeras em algum outro lugar.”
Ponto-chave:
Honestamente, não importa que ferramenta você usa em fotografia de rua. Apenas use o que funciona para você.
Eu pessoalmente gosto de clicar com filme porque isso me dá uma paz de espírito, eu gosto da estética, gosto de como isso custa-me dinheiro (deixa-me mais sério ao clicar), gosto de como não preciso preocupar-me sobre atualizar constantemente minha câmera, como não preciso de baterias (além da do medidor), como não chimpo tirando as fotos, e a excitação que tenho quando mando meu filme.
No entanto, amei clicando muito também em meu smartphone, usando o app VSCO Cam para processar minhas fotos (gosto dos presets analógicos), e compartilhando diretamente no Instagram. Para ser totalmente honesto, não posso dizer a diferença entre fotos em meu telefone processadas com o VSCO e minhas fotos tiradas com o Portra Pro 400 em minha Leica MP. Mas eu ainda prefiro a Leica quando preciso clicar rápido pelas ruas (o telefone é um pouco lento, mas ideal para retratos e paisagens urbanas).
Pessoalmente vi um monte de fotógrafos de rua que usam apenas iPhones e são bons pra caramba. Eles conseguem boas rapidamente, porque têm sempre seus telefones consigo e estão sempre clicando. Gosto do trabalho de Oggsie e Misho Baranovic, Koci Hernandez e muitos outros caras que são parte do Tiny Collective.
Se você clica com iPhone, também recomendo o aplicativo Pro Camera, que permite-lhe pré-focar e ajustar manualmente a exposição estando em movimento, o que é ideal para fotografia de rua.
Então vá vender sua Leica e compre um iPhone 6 para suas fotografias de rua.
Conclusão
David Alan harvey é certamente um dos mais inspiradores fotógrafos por aí. Apesar dele já possuir um sólido corpo de trabalho por trás, ele não parou. Ele usa sua paixão pela fotografia para continuar impulsionando-se — em seus novos projetos fotográficos, suas aulas, suas viagens e sua presença online nas mídias sociais. Ele é certamente um fotógrafo em quem você quer manter os olhos, e ter inspiração. É a perfeita síntese do clássico e “velha escola” com a “nova escola”.
Links adicionais (parte 2):
Fotógrafos que destacam-se fora de corpos de trabalho: Elliott Erwitt, Steve McCurry
Outros fotógrafos citados: Cindy Sherman, Duane Michals, Sally Mann, Daido Moriyama, Jacob Aue Sobol, Susan Meiselas, Tiny Collective
Mais de 100 livros inspiradores para fotógrafos de rua
Páginas dos aplicativos VSCO Cam e ProCamera
Agradecimentos a Cristiano Freitas
pela indicação deste texto!