A fotografia brasileira e o estrangeirismo
Não troco o meu “oxente” pelo “ok” de ninguém! – Ariano Suassuna
Imagine a cena ao chegarmos em um consultório médico e recebermos o diagnóstico da doença em Inglês, seria desesperador, agora imagine a cena que um profissional da fotografia que se dirige à sua cliente: Já vai ter um bebê! Após o nascimento a gente faz uma sessão Newborn, fazemos o acompanhamento mensal e lá pelo 11º mês de idade fazemos o Smash the Cake, posteriormente podemos também fazer um pré-aniversario no estilo Lifestyle…
A cena é fictícia e engraçada a um nível raso de análise, mas ela realmente acontece, me enfoquei na fotografia de família e infantil, pois pertenço a ela, e na área de casamentos é ainda mais assustador, os famosos Wedding, Pré-Wedding e Trash the Dress, e os ensaios cheios de letras em fôrma com a palavra Love se repetem incansavelmente, mas não é só por aí, o photographer produz photography, faz uso clichês importados, e até fotografias que não se adequam ao cenário brasileiro, isso vai desde a produção até a pós-produção, decorrentes da cultura do imediatismo e da globalização.
O que chamo a atenção é sobre a fotografia profissional brasileira, que está arraigada ao uso de estrangeirismos que vem crescendo bastante nos últimos anos. Não pretendo aqui fazer uma guerra contra a língua inglesa, muito menos dar receitas, mas sim levantar elementos a serem questionados.
A fotografia em sua concepção é uma linguagem, é um tecido visual, um texto visual, não podemos perder de vista esta importante definição, pois o fotógrafo lida diretamente com a linguagem, e ela a fotografia tem uma característica comunicativa universal, desde que possa enxergar a imagem ganha leitura, não precisa de tradução como uma obra literária por exemplo, e o público nem precisa ser alfabetizado.
O estrangeirismo ou empréstimo na fotografia está tão arraigado que grande parte dos fotógrafos famosos tidos como mestres/gurus propagam essa ideologia, em palestras, seminários, nos famosos workshops, como se estivessem sentados em um trono de ouro começam a lançar palavras estrangeiras para definir seu trabalho. Há uma propagação em editoras em publicar títulos em inglês, e não é apenas uma questão de mercado, é um modismo de poder: eu uso a língua dominante, procure você fotógrafo repetir mesmo sem saber o mínimo de Inglês e sem contestar e que seus clientes também repitam o mesmo.
A nossa língua portuguesa é riquíssima e pode oferecer infinitos sinônimos, e a cada dia que passa há uma evolução significativa, ela é também a nossa identidade, e não há motivos para ser contra o estrangeirismo, pois faz parte de qualquer língua, mas os excessos e repetições é algo intrigante.
Dizer que faz uso de termos estrangeiros na fotografia pelo fato de tal fotografo famoso usar ou um amigo de profissão, não diz muita coisa, é algo vago, usar apenas por marketing também é. Existe um imperialismo forte oriundo dos EUA em todos os aspectos, mas deixamos ele adentrar se quisermos.