A luz do palco e seus desafios para a fotografia
Apaixonada pelas artes que sou, venho me dedicando à fotografia de ballet e teatro, algo que aconteceu de repente na minha vida, e me posicionou de vez no universo da fotografia de um modo profissional.
Há muito tempo fotografo, mas nunca estabeleci que esta seria a minha profissão. Entre idas e vindas, sempre estudei técnicas, busquei me aperfeiçoar e, sinceramente, pensava que estaria satisfeita em ter a fotografia como aquela paixão paralela, de amante, sem nunca ser assumida como o compromisso oficial.
Mas eis que tudo mudou quando defendi minha tese de doutorado e me encontrei com todo o tempo do mundo; o que fui fazer? Fotografar mais e mais. Primeiro, para ocupar aquele tempo vazio tão novo na minha vida, mas… a fotografia se agarrou tanto a mim, e eu a ela, que decidi: vou assumir logo que quero viver disso, vou ser fotógrafa profissional.
Acredito que quando decidimos que vamos viver da fotografia e para a fotografia, temos que definir o nosso perfil profissional, para uma boa inserção no mercado. No meu caso, eu não tive que decidir isto, pois a minha decisão de trabalhar profissionalmente aconteceu já dentro do olho do furacão, ou seja, eu já estava envolvida no registro das artes do palco, apenas não tinha me dado conta que isto se tornaria profissão. O que fiz foi ampliar o horizonte, estendendo a experiência de trabalhar a luz do palco para ensaios com artistas, ou mesmo pessoas comuns que desejam ser retratadas de um modo criativo e original.
E é exatamente sobre isso que escreverei (com muita alegria, pois sou leitora assídua de tudo publicado aqui) todos os meses no Fotografia DG: como fazer o melhor aproveitamento desta luz tão singular como a do palco? como trazer esta experiência para conseguir trabalhos mais autorais também fora dele?
Neste primeiro post, algumas dicas essenciais para este tipo de fotografia, que nunca podem ser deixadas de lado. Todas elas serão retomadas em detalhes em artigos futuros, hoje vou apenas apresentar algumas regras básicas.
Vamos lá. Em primeiro lugar, fotografe sempre em RAW, porque a luz que encontramos normalmente no palco nos desafia todo o tempo. Ora está escura demais, ora muito clara, com muito contraste agora e nenhum no próximo instante. Por isto é fundamental este tipo de arquivo que permite ser trabalhado posteriormente, porque saiba de uma coisa, você vai errar a medição da luz, e muito.
A segunda dica é justamente o trabalho de edição posterior, que é muito importante. Eu uso o Lightroom 5, que tem me dado excelentes resultados. Mas muito cuidado para não modificar a luz original, pois as áreas de sombra fazem parte da atmosfera da luz que a direção do espetáculo criou. E isto tem que ser mantido. Não adianta clarear tudo e deixar tudo visível de um modo artificial; eu trabalho com a curvas de tons para corrigir algum pequeno erro de subexposição, ao invés de aumentar a exposição, mas atenção: se estiver muito errado, nenhuma edição dará jeito. Ao fotografar, sempre prefiro subexpor a superexpor, porque consigo recuperar melhor a imagem posteriormente fazendo assim.
Ainda em relação ao trabalho de pós captura da imagem, o balanço de brancos é outro dilema que quem fotografa espetáculos enfrenta. Em geral deixo a câmera com WB automático, porque a temperatura da luz de palco oscila o tempo todo, e ajusto estas temperaturas depois, no Ligthroom. O que faço é alterar o mínimo possível, pois novamente devemos nos preocupar em manter o clima da iluminação desejada para o espetáculo, mas principalmente as luzes vermelhas exigem ajustes. Muitas vezes, diminuindo um pouco a saturação da imagem consigo um bom equilíbrio, preservando os tons naturais da luz utilizada.
Por fim, em relação à abertura do diafragma e velocidade do obturador, tento encontrar o possível de acordo com a luz que tenho disponível. Isto mesmo, o possível. Digo isso pois dificilmente encontraremos o ideal, e como não dá para usar flash, temos que nos adaptar. A abertura deve ser grande, porém f2.8 é grande demais, porque acabamos desfocando demais outras áreas do palco, e nem sempre isso é bom neste caso. Trabalho sempre em modo manual, e uso muito f4, porque assim entra bastante luz, consigo um certo desfoque, mas não perco muitos detalhes de fundo. Dependendo do caso fecho um pouco mais o diafragma, e compenso no ISO, que deixo também no manual e vou alterando de acordo com a situação, em geral entre 800 e 2000. A velocidade mudo o tempo todo, mas nunca abaixo de 1/80, senão corro o risco de ter imagens borradas (salvo quando quero este efeito, mas isto é assunto para outro post). Trabalho sempre sem tripé para poder me deslocar. Não é preciso dizer que no fim de duas horas de espetáculo estou exausta, hehe.
Por hoje é isso. Leves pinceladas de técnica para fotografar as artes do palco. Em breve, muito mais.
Até lá.