Uma analise filosófica sobre a fotografia e sua função de eternizar momentos
Françoise Choay explana muito bem com sua definição de união da fotografia com nossa identidade tanto pessoal quanto coletiva: “[…] a fotografia é uma forma de monumento da sociedade privada, que permite a cada um obter em segredo o regresso dos mortos, privados ou públicos, que fundam a sua identidade”. Ou seja, a fotografia concebe uma ideia enquanto uma imagem congelada no tempo em que foi produzida, e desta forma é de um valor patrimonial incontável.
Passa pelo imaginário comum que a representação do tempo e espaço na fotografia é exterior à mesma, de forma que nunca estaria em um pedaço de papel, que a linha temporal ali presente nada seria além da captura de um instante. Seria o congelamento daquele momento, uma quebra na linha cronológica da vida da pessoa ou objeto ali gravado. Algo sem vida, só a lembrança de um passado, sem emoções e sem sonhos.
Porém, algo mais se passa naquele instante quando o obturador é disparado: uma experiência é congelada. Mauricio Lissovsky delineia que “o que é congelado é o espaço e não o tempo: ele ali continua latejando, pulsando e produzindo experiências”. Sob essa ótica, devemos mudar a maneira como notamos uma fotografia, pois, embora as emoções ainda se façam presentes, é provável que aquele bem tenha sofrido alterações temporais ou depreciativas, e não obstante não represente mais aquele determinado passado em que foi assentado – pois até mesmo os olhares que incidem naquela fotografia podem estar imbuídos de concepções diversas, modificando, portanto, um curso histórico e criando a cada momento uma trajetória singular, importa num fato social registrado e resguardado para as gerações futuras.
Talvez, ao contrário do senso comum, a maior diferença sentida seja em fotografias de patrimônios, em fotos antigas da cidade ou em prédios e monumentos. Afinal, o patrimônio visto em registro de um século atrás carrega uma carga emocional muito mais forte do que aquele visto pessoalmente nos dias atuais. Podemos estabelecer um paralelo com o futuro, de forma que um registro hodierno, observado em um século ou dois, busque a possibilidade de que um indivíduo o note como visto atualmente, independente da forma como seja feita a conservação do mesmo.
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