Entrevista com Alberto Prado – Projeto Ela Crua
Alberto Prado, mora Guarulhos, São Paulo, e é o idealizador do projeto Ela Crua, que consiste em registrar mulheres em sua intimidade. No tom natural a mulher se mostra no estado em que deseja ser vista, ela se deixa retratar no cru do seu próprio mundo, personalidade e estilo. Conversamos com ele pra saber mais do projeto e do seu trabalho:
Como e quando você se descobriu fotógrafo?
Sou fotógrafo desde 2007, descobrir a fotografia foi algo mágico pra mim, pois tinha uma certa timidez e era muito introspectivo, desenhar com a luz e poder mostrar o meu olhar sobre as pessoas e o mundo foi um acontecimento incrível na minha vida. Poder escrever e mostrar meus sentimentos era algo impossível, pois não sou bom com a escrita e a fotografia trouxe a possibilidade de me expressar, mostrar o que vejo e eternizar um instante que nunca voltará a ser o mesmo.
O que é o projeto Ela Crua?
O projeto ElaCrua surgiu de uma vontade que eu já tinha de fotografar o nu feminino, para não sair fazendo ensaio aleatórios decidi que tinha que montar um projeto para fazer esse tipo de fotografia. Conversando com uma amiga “Tyna Oliveira” e tentando entrar nesse universo fantasioso que é o feminino chegamos a conclusão que nada melhor do que fotografar a mulher “Crua” na sua essência, no seu estilo e na sua personalidade. Tyna me sugeriu um nome para o projeto que era “Crua” e eu sentia falta de algo que complementasse esse nome daí surgiu o projeto ElaCrua.
Como é o seu processo de criação?
No projeto ElaCrua faço uma entrevista com cada mulher, mandando a elas um questionário com uma série de perguntas que as revelam um pouco, questões respondidas decidimos todo o conceito dos ensaios juntos, locação, poses e etc. Procuro não intervir nas posições e no modo como as mulheres pousam para o meu projeto, quero a naturalidade delas, a essência, as quero cruas para que eu possa somente intervir com o meu olhar.
Você enfrenta algum tipo de dificuldade em ser homem e abordar o nu feminino?
Vivemos em um país totalmente machista, por incrível que pareça, lidar com o nu feminino está sendo um grande desafio, pois tenho que abster o meu lado masculino para não interferir nas fotos e deixá-las sempre a vontade nos ensaios, ser neutro e entendê-las está sendo crucial para o desenvolvimento do projeto. Fico feliz de estar desenvolvendo um projeto tão delicado e lidando com um ser que jamais havia entendido.
O que mais te inspira?
O grande desafio de ser sensível, que para muitos homens é um sinal de feminilidade é o que me inspira nesse projeto, essa sensibilidade aflora a partir do momento que quebrei meus paradigmas e consegui transformar essa sensibilidade em imagens.
Um ponto muito forte nas suas fotografias é a naturalidade, simplicidade e até mesmo intimidade, como consegue extrair isso das mulheres que fotografa?
Ser neutro está sendo o grande segredo para conseguir lidar com a intimidade e o nu feminino, mulheres são sensíveis e se não souber trabalhar com isso não consigo extrair o que preciso para que o meu projeto vá a frente.
Além das fotos, o projeto ainda tem vídeos. Como é o processo de gravação desses videos?
Os vídeos são feitos juntamente com as fotos no mesmo momento, quando vejo uma cena ou uma fotografia que ficou interessante faço essa troca constante, acho que o vídeo é uma extensão do ensaio, mostra o movimento que a fotografia não me dá, traz o sentimento a tona. Essa multimídia me dá mais uma possibilidade de retratar as mulheres, é um processo difícil, pois havia feito poucos trabalhos com vídeo até então, mas ter a conexão com elas desde a hora da gravação até a hora da escolha da música para o vídeo e isso ter dado certo é uma satisfação.
Você tem outros projetos além do “Ela Crua”?
Tenho um projeto chamado “Lost” que também trabalha com o universo feminino mas de uma outra maneira, logo teremos novidades sobre esse projeto, vamos deixar o suspense (risos). Alguns projetos estão em mente tais como “Masturbação” e “Entre o Azul da Cianotipia e o Vermelho da Menstruação” que são projetos mais ousados e ainda estou pensando as possibilidades para desenvolvê-los.
Quais são as suas maiores influências no universo da fotografia?
Me inspiro muito no trabalho do Richard Kern um fotógrafo americano mas gosto de muita coisa no universo da fotografia, Sebastião Salgado é um cara que me encanta por trabalhar com paixão. A arte vem sendo uma grande influência na minha fotografia, gosto muito de tatuagem, grafitti, pintores antigos e etc.
Quais são as dicas que você pode dar para nossos leitores apaixonados por esse estilo de fotografia?
Trabalhar com amor ao que fazemos é a grande dica que dou a todos apaixonados por fotografia, esse estilo de fotografia o nu é um estilo que chama muita atenção e todos gostamos, mas ainda espero que possamos ter mais respeito a nossas modelos e mulheres e quebrarmos esse preconceito que ainda impera sobre o nosso Brasil.
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