Paparazzi = shit — sobre imoralidade, tráfico e ‘trabalho’
Quem disser que ama os paparazzi é porque no mínimo trabalha com eles…
Já ouviram a música People = shit do Slipknot? Tudo bem, se não ouviu, nem todo mundo curte rock agressivo demais – quando curte algum rock. Mas uma coisa é fato, pelo menos a meu ver: a letra e toda sua fúria batem com os sentimentos que muitos – inclusive eu – têm contra os paparazzi. Não duvido nada que um dos motivos de Corey Taylor gritar essa letra sejam os paparazzi, ou toda a podridão que os alimenta e que é também por eles alimentada. Pode ser exagero dizer assim, que pessoas são igual a m…, de forma tão generalizada, mas não há como negar que existe um imenso círculo vicioso envolvendo o trabalho (?) de um paparazzo.
Que dizer de bom sobre fotógrafos que vivem de praticar algo imoral acobertados por alguma lei que os sustenta e pune quem não vive atrás das celebridades e ganha dinheiro com isso (supondo que exista uma obscura lei do tipo)? Nada.
Muito se fala da difusão tremenda da fotografia e a popularização de momentos que antes eram mais íntimos e etc. OK, até aqui tudo bem: se expõe quem quer e por sua conta e risco, exceptuando-se, claro, os menores de idade. Mas uma coisa é você exibir-se em público, em sua varanda ou algo no estilo; outra coisa é alguém passar um bocado e tempo lhe perseguindo para obter uma foto de um momento privado: é absolutamente sem sentido! Por isso dou razão aos que brigam com esses fora-da-lei profissionais e os processam. Ou mesmo os agridem, depois de serem claramente alertados de que o momento é íntimo e o fotografado não deseja fotografias ou filmagem, e mesmo assim o protesto é solenemente ignorado, como se já não bastasse o susto de ver-se espionado e a violência como que isso é por vezes feito. Quando leio notícias como esta, não nego, fico do lado do(s) invadido(s), que não é por serem famosos que são obrigados a ter sua vida 24h exposta a uma parcela da sociedade que prefere acompanhar a vida de outrem a viver a sua própria.
Um verdadeiro estupro consumado é o fruto do “trabalho” destes sujeitos, pago por revistas que alimentam-se das invasões de privacidade ostensivas e persecutórias. O único paralelo cabível, em termos de tipo de atividade e etc, que encontro, é com os traficantes de drogas – e não falo dos vendedores de cafés em Amsterdã que fornecem pequenas quantidades legais de maconha, falo de traficantes pesados, como um Fernandinho Beira-Mar da vida. O “esquema” insano é o seguinte:
1 – A droga são as fotos que alimentam os fofoqueiros e aqueles que são viciados em dar pitaco na vida alheia;
2 – O traficante é o paparazzo, o fotógrafo que utiliza do que aprendeu sobre uso de equipamento fotográfico para não apenas invadir mas também violar a privacidade dos afetados (aqueles que, assim como os que são ameaçados e/ou agredidos pelos drogados, são pessimamente influenciados pelo terrível ciclo);
3 – Os usuários, como já dito, são os leitores ávidos de revistas que baseiam-se suas matérias (?) nesta atividade criminosa, a título de “informação pública” ou título congênere (como se um traficante prestasse serviço social…);
4 – As revistas por sua vez podem ser comparadas às empresas de fachada que mantêm uma ampla estrutura de “funcionários” atuando em atividade além das bordas legais, fazendo uso de “propinas” – as indenizações nos processos, que não impedem a veiculação instantânea das imagens, apenas a reprodução a partir da vitória do reclamante
5 – E os artistas? Estes vivem mudando as regras do jogo continuamente, ora usando os paparazzi para seu proveito, ora rechaçando-os: como considerá-los? Não são os consumidores finais, nem são os traficantes a todo o tempo – e assim ficam neste jogo de às vezes agir como fornecedores de matéria-prima (sua imagem, ofertada via agentes ou “amigos”) e às vezes como a própria droga, que é comprada, usada e os usuários só pedem mais (daí reclamam, geralmente com razão, que estão sendo usados inapropriadamente).
A razão de ser de todo esse mercado invasivo, segundo dizem os mantenedores do negócio (os paparazzi e as revistas e sites de fofoca e afins), é a demanda: dizem eles que fazem o que fazem porque existe demanda no mercado. E esse é um dos motivos porque comparo o paparazzo a um bandido “legalizado”: para tudo há demanda! Não é porque existe alguém querendo esquartejar um outro alguém que uma terceira pessoa pode sentir-se no direito de não apenas fazê-lo como ter uma atividade assim como meio de vida, afinal o mercado não está acima das leis que regem as cidades, os estados e todo o país. Mesmo em ditaduras, o uso da violência é reservado ao Estado, como meio de controle social (por isso homicídio por um civil, por exemplo, é proibido e passível de punição, enquanto policiais podem, a pretexto de segurança premente, “eliminar” um sujeito).
Outro argumento falho é o de que os paparazzi têm uma família a manter e contas a pagar, e o dizem mesmo com bom tempo neste mercado sinistro. Um fotógrafo pode ver-se forçado a ingressar no ramo por razões financeiras, já que costuma-se pagar o dobro por este tipo de serviço (ou desserviço, a depender do ponto de vista) – como disse Daniel Kfouri no episódio Fotojornalismo, a ética e a caça, da série Caçadores da Alma (TV Brasil – vide aqui). No entanto, alguém que já fez seu pé-de-meia na área e, naturalmente, já saiu do “aperto” financeiro que o forçou (?) a participar do estúpido endeusamento de celebridades não tem motivos que sejam para continuar o que faz. É um traficante viciando-se na prática de sua ilegalidade, mercenário sem limites levando ao extremo o conceito de ser imoral e antiético.
Em suma: acho nojento, imoral e digno de punição pelas leis cabíveis e repúdio pelas categorias — dos fotógrafos e dos veículos.
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PS: não me refiro a fotógrafos que clicam pessoas, famosas ou não, em espaços públicos, OK? Eles ainda aumentam o pedestal das celebridades, mas ao menos mantêm-se dentro da lei.
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