Entrevista com Fabio Stachi
Fabio Stachi é fotografo de São Paulo, conhecido por buscar a beleza no caos. Suas fotografias têm grande impacto visual. Batemos um papo com ele para saber um pouco mais da sua fotografia:
Quem é Fabio Stachi?
Paulista, 31 anos, formado em design gráfico. Capricorniano, corintiano, curioso, preguiçoso, distraído, paciente, extremista e de bom gosto.
Como e quando a fotografia entrou na sua vida?
Desde criança gostava de brincar com a câmera do meu pai. Mas por volta de 2002 conversando com um amigo que é um grande artista plástico, decidi comprar uma câmera reflex. Percebi que não precisava ser um profissional ou ter ambições financeiras, mas que a fotografia poderia ser uma “brincadeira nas horas vagas”. Comprei uma Canon EOS 500, uma caixa de filmes e fui fotografar a vida ao meu redor.
Como você define o teu estilo fotográfico?
Difícil dizer. Eu não criei um estilo, ou coisa parecida. Acho que de acordo com meu repertório artístico, minhas referências, vivência e convivência com pessoas que fazem e fizeram parte da minha vida pessoal algumas características foram tomando forma com o tempo. Muita gente aponta meu trabalho como obscuro, sombrio e triste. Eu não sei bem de onde veio isso, mas talvez seja da referência musical, pois sempre ouvi metal desde a adolescência e tanto as músicas quanto o universo visual dos encartes e clipes sempre me encantou. Muita gente que ouve rock pesado se identifica com o meu trabalho, então deve ser isso.
Teu trabalho é conhecido por conter elementos fortes, são imagens de grande poder visual mas ainda assim não são gritantes ou apelativas, como você conduz para que tudo fique em equilíbrio?
Eu poderia passar horas discutindo sobre isso, mas é mais uma questão de educação e cultura, não existe uma regra. Eu faço dessa maneira pq eu sou assim. Mas ainda vou conseguir fazer imagens gritantes e apelativas, é minha próxima meta.
A maioria das pessoas te conhece pelo teu trabalho autoral, de grande valor artístico, mas você também faz trabalhos comerciais para a revista Sexy. Teu trabalho autoral te alimenta artisticamente e o comercial financeiramente, ou você vê de outra forma?
Sim, basicamente meu trabalho comercial me alimenta financeiramente, apesar de também vender algumas fotos autorais em exposições. A fotografia hoje no Brasil infelizmente não dá muito dinheiro, ainda mais se o trabalho for “artístico demais”. Eu preciso pagar contas e não posso esperar alguém comprar minha foto pra ganhar algum dinheiro. Não há nada de errado em fotografar para revistas, muito pelo contrário, adoro quando aparece uma pauta. Não faço simplesmente pelo dinheiro (até porque revistas não pagam bem), mas porque gosto também.
Não divulgo muito meus trabalhos comerciais, pois quero deixar claro que meu foco é arte e se alguma revista ou agência me procurar para fotografar um editorial ou campanha é pelo conceito artístico daquilo que gosto e sei fazer.
Se você tivesse que escolher apenas uma coisa pra fazer dentro da fotografia, o que seria?
Eu posso dizer que faço apenas o que gosto: editorial, catálogo e arte. Mas se for pra escolher apenas uma: Arte!
O que mais te inspira? E como é o teu processo de criação?
Meu processo de criação é simples: livros de arte abertos na mesa, papel e lápis na mão acompanhando de boa música e uma xícara de café.
Muitas coisas me inspiram, fica difícil explicar exatamente quando a idéia acontece. Mas eu procuro sempre estar renovando meu repertório artístico, assistindo a novos e alternativos filmes, lendo livros e experimentando novos sabores. Acredito que quem trabalha com criação precisa estar de olhos abertos e ouvidos atentos a todo o momento, sem preconceitos ou barreiras.
Eu tenho uma paixão grande por aquilo que eu chamo de “podriqueira”, manja aquela coisa nonsense? Os filmes do Sady Baby, a foto do macaco empurrando o anão dentro de um carrinho de supermercado ou do cara pelado abraçado a um cacto. Isso pra mim vale mais como referência artística do que qualquer obra do Bresson.
Uma marca muito forte do teu estilo de fotografar são coisas sombrias, sujas, escuras, sentimentos fortes, caos, a que deve essa escolha de optar por esses temas?
95% do que vejo na fotografia popular é a estética da beleza, todo mundo gosta de ver fotos de paisagens, sorrisos, pessoas lindas e gostosas, famílias felizes, bebês, flores e gatinhos. Vemos isso todo dia, toda hora. Eu também gosto e acho bonito, apenas escolhi não fazer o mesmo. A vida também é suja, sombria, caótica e os sentimentos não são de felicidade a todo o momento. Eu só escolhi retratar isso, não é nada de inovador ou diferente, apenas menos popular que o colorido e feliz. Quem me conhece sabe que não sou uma pessoa sombria ou triste, nada disso. Simplesmente escolhi fotografar o que me toca com mais força e é o que mais tentamos fugir no dia a dia, nossos sentimentos menos superficiais.
Em sua opinião, qual a maior dificuldade e o maior prazer em trabalhar com fotografia?
Dificuldade: pouco dinheiro. Prazer: poder controlar o meu próprio tempo.
Você teria alguma dica pra dar pra quem está começando a fotografar?
Fotografe TUDO! É um erro começar achando que quer fotografar só moda ou qualquer outra coisa. Fotografe o que você ama, a sua família, você mesmo, sua vida inteira em qualquer momento, e tente tirar lições disso. Não fotografe apenas, procure fotografar de uma forma um pouco diferente, experimente fotografar com filme, em preto e branco, com pincel e tinta, ou simplesmente com os olhos. Fotografe! Mas o mais importante é não criar suas próprias barreiras, você pode fotografar tudo e de todas as formas. Não tenha preconceitos. Não ache que você é um fotógrafo profissional porque comprou uma câmera digital e criou uma fanpage porque sua mãe elogia suas fotos. Você não vai ser melhor ou pior se “tornando profissional”. Estude sempre! Estude livros, estude ARTE. Estude! Quando achar que já estudou demais, estude ainda mais. Jamais se limite a achar que conhece tudo ou que o seu equipamento é o mais importante. Sua câmera é a sua chave de fenda, não a idolatre, fotografe!
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