O que não fazer quando se está começando
Meu nome é Liana Lemos e sou uma apaixonada por fotografia. Comecei meus primeiros passos na fotografia quando ainda criança. Nunca esqueço o dia que ganhei de presente minha primeira câmera fotográfica, uma “Love”. Vocês também tiveram uma Love? Bem, se você aí é da década de 80 assim como eu, estou certa que rolou uma pontinha de nostalgia, não é mesmo? Eu simplesmente adorava minha câmera descartável, fotografava de tudo: árvores, carros, bonecas, interruptores de luz e muito chão.
Revelava milhares de filmes das minhas analógicas e amava montar álbuns e agendas com recortes fotográficos. Em certa ocasião tive que fazer um trabalho para escola (não recordo bem o tema) mas deveria ser feito com recortes de jornal e revista. Eu queria fazer algo diferente e resolvi sair pelas ruas do Cosme Velho e Laranjeiras fotografando mendigos e garotos de rua. Eu devia ter uns dez anos de idade, pois lembro que minha babá teve que ir junto. Lembro da emoção que sentia a cada foto. Mandei para revelação e já tinha certo em mente que queria todas em preto e branco. Não sabia bem o porquê, mas sabia que a emoção passada seria mais forte. Colei tudo em cartolina preta e fiquei muito satisfeita com o resultado. Acho que foi a primeira vez que o ato de fotografar tocou meu coração.
Nunca mais larguei a câmera fotográfica, que me acompanhou por toda adolescência até a idade adulta.
Certo dia parei e pensei: agora é hora de aprofundar meus estudos. Vou me matricular em um curso. Comecei a pesquisar escolas de fotografia, mas estava com viagem marcada para os Estados Unidos e decidi começar no retorno da viagem. Fiz a grande besteira de comprar uma câmera antes de iniciar o curso. Achava que tiraria mais proveito se tivesse uma DSLR profissional em mãos. Primeiro erro: eu sequer sabia o que era uma câmera profissional. Aproveitei que estava em Nova Iorque e comprei minha primeira DSLR. Imagina eu, totalmente sem conhecimento, na imensidão tecnológica que é a BH. Agora imagina essa mesma pessoinha, tentando conversar com o vendedor, em inglês, sobre câmeras e lentes. Eu só ouvia: “one point four”, “one point eight”, 24 x 70, “D” sei lá o quê… um monte de números e letras que não me diziam absolutamente nada. Isso sem falar da cara de “mínima paciência” do vendedor. Enfim, saí de lá com uma Nikon D7000, com a lente do kit, uma 18 x 105mm, um cartão de memória de 16g e uma felicidade maior que o mundo.
Citei essa experiência como primeiro erro, porque logo depois fui perceber que nem a câmera e nem a lente atendiam as minhas necessidades e tive que reinvestir muito cedo em equipamento. Hoje sei que deveria ter feito primeiro o curso básico com a câmera que eu tinha, ter treinado bastante, ter buscado mais conhecimento sobre equipamentos, descobrir o que eu realmente queria na fotografia e só depois ter investido na compra certa.
Pois bem, depois de concluir os cursos básicos de fotografia e tratamento de imagem, comecei a procurar “trabalho”. Trabalho, entre aspas, porque fiz muitos ensaios gratuitos, a fim de construir meu portfólio. Neste ponto acho que acertei, porque pude aprender muito com meus primeiros ensaios e não fiz a besteira que muitos fotógrafos iniciantes fazem de vender seu trabalho a preço de banana. Assim conquistei clientes e pude fixar um preço inicial justo.
Comecei a frequentar workshops de fotografia infantil e newborn, já que pretendia atuar nesta área. Aqui abro um parêntesis para dizer o quão importante é focar em uma determinada área. Se especializar. Atirar para todos os lados é um grande erro. Identificar uma área de atuação ajuda o fotógrafo a conhecer e atingir seu público alvo, criar sua identidade visual, ser reconhecido no meio fotográfico por sua especialidade e a direcionar seus estudos para se tornar muito bom naquilo que escolheu. Mas voltando aos workshops, cito aqui meu segundo grande erro: fiquei tão apaixonada por fotografia newborn, que saí comprando uma enormidade de props e backdrops. Eu achava que tinha que ter todos os gorrinhos, wraps, cestas, caminhas, headbands e a infinidade de itens deste universo. Grande tolice. Fiquei com uma pilha de coisas em casa e no final das contas percebi que meu estilo era outro – o “lifestyle”.
Hoje percebo que prefiro fotografar pessoas (de um modo geral) usando seus próprios pertences, pois assim se recordarão de coisas com significado especial para elas e não para mim. Resultado: A ansiedade aliada a falta de autoconhecimento e definição de um estilo próprio resultou em muito dinheiro jogado fora, uma mala de carro lotada de cestas e caixotes e um quartinho de empregada entulhado de roupinhas de bebê.
Outra coisa muito importante quando se está iniciando é criar uma identidade visual. Através de sua marca, de seu logo, seu trabalho passa a ser reconhecido e individualizado. Neste quesito cometi erros e acertos. Acertei quando contratei um designer para criar minha marca e meu logo. Errei quando montei um blog pessoal, comprei um template qualquer e comecei a postar. Digo que errei porque o site não tem a minha cara, não tem a identidade da minha marca. Resultado: vou ter que refazer o site, agora com um designer gráfico, gastar mais dinheiro e tempo para refazer todos os posts.
O quarto erro que cometi foi nos meus primeiros orçamentos. Respondia por e-mail, no próprio corpo do pedido, ou in box na minha fanpage. O orçamento é muito importante para apresentação do serviço, para vender seu peixe, sabe? Ele deve conter todas as informações de pacotes (preços, quantidades de fotos, apresentação do produto final), suas informações de contato, site, fanpage, condições gerais do serviço a ser prestado e fotos. Um design clean, com texto claro e sem erros gramaticais também são uma boa pedida.
Agora falando dos primeiros trabalhos e lá se vai o quinto erro: devemos ter em mente algumas precauções básicas e essenciais, principalmente quando estamos começando. A título de didática, acho legal contar um caso particular que retrata quão prejudicial pode ser a falta de experiência. Imagine o seguinte cenário: primeira festinha infantil, primeiro flash, um único kit de pilhas recarregáveis na bolsa e quase nada de conhecimento sobre flash dedicado. Após duas horas de festa e cerca de 400 cliques, eis que o flash não funcionava mais. Desespero total. Acho que o maior desespero vem quando a gente simplesmente não tem noção do que está acontecendo. Nessa situação, o que ocorreu foi que eu estava sobrecarregando o flash com ISO muito baixo em local de pouca luminosidade. Assim não há bateria que aguente. Nessas horas, a falta de experiência pode acabar com um trabalho, ou pior, com o nome de um fotógrafo. Minha sorte é que a cliente era uma amiga, sabia que era minha primeira festa infantil, o trabalho foi um “presente” para o aniversariante e pude conversar com ela. Corri, literalmente (inclusive perdi um sapato na maratona), até a lojinha mais próxima e comprei pilhas novas. Consegui voltar a tempo de concluir a festa sem grandes prejuízos.
A gente vai aprendendo com os erros, mas nada justifica não levar baterias e cartões de memória extras para um evento. Levar uma câmera extra também não faz mal nenhum, vai que a primeira resolve não funcionar.
Temos que zelar por nosso nome sempre e independente do tempo de estrada, algumas providências precisam ser adotadas desde o início, seja com a correta manutenção dos equipamentos, seja com a nossa identidade visual, seja com o aprendizado constante, seja com o cuidado direcionado aos nossos clientes, desde o primeiro atendimento até a entrega final de um produto de qualidade.
Achei importante, neste meu primeiro artigo, falar sobre alguns erros que cometi no início da carreira. Ainda estou aprendendo e trabalhando bastante para me tornar uma grande fotógrafa um dia. Sei que muitos erros ainda virão pela frente. Quem sabe estes exemplos de “o que não fazer quando se está começando”, possam servir de alerta para colegas nesta mesma situação. Afinal, melhor aprender com o erro dos outros, não é mesmo?
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