Retratando a vida nas ruas: Lee Jeffries
via Cultura Colectiva / O fabuloso mundo das imagens
Por mais de três anos, Lee Jeffries tirou fotografias de “gente sem teto” por todo o mundo. Mas não são imagens obtidas rapidamente e desde longe, e sim íntimos retratos que capturam cada incômodo detalhe, cada cicatriz e cada grão de sujeira.
Em 2008, o fotógrafo, que atualmente reside em Manchester (Reino Unido), visitou Londres para correr uma maratona. Jeffries, que originalmente é um fotógrafo de esportes e contador por profissão, caminhou pela cidade na véspera da corrida e notou uma jovem sem teto que estava sentada na entrada de uma loja na Leicester Square. Desde longe ele começou a fotografá-la e ela, por sua vez, começou a gritar-lhe imediatamente “Não podes fazer isso!” e “Dê-me dinheiro!”. Jeffries comenta: “Eu estava do outro lado da rua quando ela começou a gritar para mim… fiquei com muita pena.”
Foi um momento de transição para o fotógrafo novato: poderia virar-se, ir-se caminhando e fazer como se nada houvesse acontecido, ou ir até ela, desculpar-se e entabular uma conversa. Assim que sentou-se ao seu lado “Ela tinha 18 anos e havia fugido de sua casa. Tinha muitas cicatrizes… e assim começou tudo.”
Desde então, seu projeto levou-lhe a múltiplas locações ao redor do mundo, desde becos em Los Angeles até as partes mais escuras e sujas em cidades na França e na Itália. Também teve que lidar com situações perigosas: já puseram uma pistola em sua cabeça, o insultaram mais de um par de vezes, e sempre lhe pedem dinheiro (ainda que não lhe peçam, Jeffries sempre lhes paga por seu tempo).
Como um fotógrafo de modas que escolhe a seus modelos meticulosamente, Jeffries seleciona seus exemplares da mesma forma. “Não tiro fotografias de todas os sem-teto que encontro. Tenho que ver algo em seus olhos. A menos que sinta que se pode sentir alguma emoção da pessoa, a fotografia simplesmente não funcionará. Tirei centenas de fotografias de pessoas que, honestamente, não funcionavam.”
Suas palavras evocam as palavras do famoso fotógrafo de guerra Don McCullin, que também passou quase duas décadas fotografando gente sem-teto: “A fotografia não é ver, é sentir. Se você não pode sentir com o que está vendo, então jamais vai conseguir que outros sintam algo quando vêem suas fotografias.” De maneira similar a McCullin, os retratos de Jeffries são em sua maioria em preto e branco, e sem iluminação artificial. Mas admite que para que o resultado seja mais “artístico”, trata as imagens bem depois de tirá-las.
À parte as tentativas de capturar a essência de seus “modelos”, Jeffries disse que lhe dá uma grande satisfação o contato pessoal que tem com eles: “Quero estar perto, tirar retratos e não contar a história do meio ambiente em que encontram-se, mas contar sua história. Passei dias com algumas pessoas e não me deixaram tocar na câmera. Você tem que passar tempo com eles, dizer-lhes o que está fazendo, para que é, e seis ou sete vezes de cada dez, obtenho uma foto. Nas outras vezes simplesmente vou-me embora.”
Jeffries é honesto quando fala das razões por trás de seu trabalho e o efeito que vem tendo sobre como vê essas pessoas: “Geralmente não me prendo a políticas que rodeiam o tema. Faço uma conexão, se posso gosto de alegrar-lhes o dia e dar-lhes um pouco de dinheiro. Assim tenho um maior apreço por seu jeito de viver.”
agradecimentos a Elvio Luiz,
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