Vendi minha 50mm
Quem disse que 50mm é ótima ideia pra todo mundo, a delícia do Paraíso aqui na Terra? Tá, eu dei uma contribuição, mea culpa! Mas….. não é bem assim.
Existem certas vantagens em considerar o fator de corte de sua câmera (supondo, claro, que você não usa uma Canon 5D mark III, por exemplo) e fazer uso de uma objetiva fixa grande-angular. E mesmo quando sua câmera não tem fator de corte, ainda pode ser vantajoso. Exponho os porquês:
Numa grande-angular (GA, para os íntimos), ocorrem basicamente três coisas: maior ângulo de visão, afastamento de planos e maior profundidade de campo (se considerarmos a mesma abertura de diafragma). Essas são vantagens comuns tanto a objetivas GA usadas em câmera full-size quanto “cropadas”.
foto: “Luar de Catimbau”, por Alexandre Maia – no flickr
O que é o afastamento de planos? É a visualização de planos mais afastados do que realmente estão, ou seja, um objeto ou pessoa em primeiro plano parece mais distante do segundo e de outros planos quando visto através de uma GA – efeito inverso das teleobjetivas, que “achatam” os planos, deixando-os mais “próximos”. Isso é ótimo para dar noção de espaço à imagem.
foto: Leandro Santiago
foto: Leandro Santiago – flickr
(notaram a diferença?)
Já a profundidade de campo é um fator bastante aproveitado por quem fotografa paisagens: o uso de grande-angular não apenas permite captar ângulos maiores, como também ter uma maior extensão da foto em foco. Isso é provocado, como disse o fotógrafo Armando Vernaglia Jr., pelo menor orifício de diafragma causado pela lente mais curta. No caso dos modelos de câmera com sensor menor que full-frame, seja tipo APS-C ou ainda menor, a profundidade de campo é ainda mais ampliada, já que as proporções do sensor influenciam neste detalhe técnico. Por isso que fotografar com câmeras bem compactas e querer ao mesmo tempo um bom desfoque de fundo é por vezes uma utopia irrealizável – os sensores minúsculos não possibilitam tal “façanha”, a não ser que se estenda (por vezes bastante) o zoom e regule a abertura para a máxima possível (ou quase isso).
foto: “O pulo desesperado”, por Alex Nóbrega – no flickr
E o maior ângulo de visão? A mais óbvia das características também tem benefícios bem interessantes, especialmente para fotojornalistas:
- Possibilidade de expor todo o contexto do acontecimento (assim como fazia com maestria o fotógrafo Enrique Metinides)
- Inserção, ainda que virtual, do espectador na cena
- Maior espaço para cortes posteriores, permitindo composições mais aprimoradas sem que o fotógrafo perca o momento pensando em como “arrumar” os elementos na imagem
foto: Enrique Metinides – fonte: NY Times
Por estes motivos não acredito tanto assim a primordialidade de uma 50mm e dou preferência a grande angulares na hora de optar entre objetivas GA ou normais/meia-tele.
Tudo muito bonito, mas deve haver desvantagens… e existem, sim, infelizmente. Também com ajuda do Vernaglia, tenho uma pequena relação dos “contras” de usar GA. Lembrando que, a depender das intenções do fotógrafo, estes defeitos podem ser úteis e até desejáveis. São eles:
- Distorções por arredondamento nas bordas – repare bem na foto abaixo)
- Maior tendência a vinhetagem nas bordas em caso de grandes aberturas. Há quem aprecie, mas há quem simplesmente considere um defeito, e nunca um defeito.
- Maior propensão a flare devido ao tamanho e curvatura do elemento frontal. Leia sobre flare em texto do Clício Barroso Filho
- Dificuldade de desenho do parasol por causa do ângulo de visão. E assim o parasol fica sem poder cumprir tão bem uma de suas funções, que ajudar a proteger a objetiva.
foto: “Casa do forno de cal”, por Alexandre Maia – no flickr
Em tempo: estou utilizando atualmente uma Canon EF 28mm f/1.8 USM e adorando. Baixos índices de distorção e de reflexos (flares) e foco ligeiríssimo. Recomendo aos canonzeiros que não fizerem questão da versào com IS. Fotos produzidas com ela podem ser vistas no Pixel-Peeper.
No terreno nas super GAs recomendo a Tokina 11-16mm f/2.8 – vide fotos.
agradecimentos a Armando Vernaglia Junior pelos preciosos toques e
a Alex Nóbrega e Leandro Santiago por permitirem o uso de suas fotos para ilustrar este artigo
Tag:50mm, Distorções, Fator de corte, flare, GA, grande angular, profundidade