A fotografia e suas várias funções, um passo além da etnografia
Alguns dias atrás estive em uma palestra bastante criativa e porque não dizer encantadora. O palestrante, fotógrafo e professor Alexandre Romariz Sequeira, ofertou a todos os presentes três histórias de projetos que ultrapassam a linha divisória entre a realidade, o lúdico e o lendário.
Nazaré do Mocajuba
– a fotografia como ferramenta de inserção geográfica global e autoconhecimento imagético pessoal
Na primeira narrativa de seu projeto, Alexandre, (que também é um excelente contador de histórias) deixou a todos boquiabertos com sua sensibilidade ao se aproximar de uma numa pequena vila de pescadores localizada no município de Curuçá, no nordeste do estado do Pará-Brasil.
Conta ele que a primeira intenção, ao visitar Nazaré do Mocajuba, foi fotografar a paisagem, mas o contato com os moradores aos poucos gerou novos encontros permeados por trocas de afeto, baseadas na confiança e no respeito mútuo. A cidade, quando Alexandre lá esteve pela primeira vez, ainda não possuía luz elétrica e tampouco TV, as pessoas tinham pouca ou nenhuma memória fotográfica de seus parentes e delas próprias, e, quando tiveram um maior contato com o forasteiro que aos poucos se tornaria amigo, e que sempre carregava consigo uma câmera fotográfica, iniciaram pedidos para que o mesmo os fotografasse, tanto para lembranças pessoais, como também para documentos. Fotos envelhecidas de parentes distantes ou ausentes também foram trazidas ao amigo forasteiro para que pudessem ser restauradas. Alexandre, com prazer, realizou diversos trabalhos sem nada cobrar, apenas pela satisfação de ver aquelas pessoas se reconhecendo em imagens. Aos poucos a intimidade foi se tornando maior e o professor que lá estava realizando um trabalho acadêmico foi se tornando mais próximo e sendo convidado a visitar as casas dos moradores locais. Ao adentrar os lares do vilarejo, percebeu que todos tinham algo em comum, um tecido de padrões diversos que separava um cômodo de outro como uma cortina. Ao observar pelo fino tecido a silhueta de uma pessoa no cômodo oposto que era iluminada na contraluz que provinha de uma janela ficou fascinado por aquela imagem. Ainda sem saber ao certo o que viria a criar posteriormente, propôs a alguns moradores se gostariam de trocar com ele suas cortinas por outras novas que ele traria da cidade. E lá estava Alexandre com vários tecidos sem ainda saber ao certo o que fazer com os mesmos.
O resultado foi a inserção serigráfica das imagens em tamanho real dos moradores em seus próprios objetos – redes, mosquiteiros, lençóis, cortinas. Os tecidos transformaram-se então no suporte da obra e o retrato em sua unidade conceitual.
Em seguida montou uma exposição ao ar livre, às margens do rio Mocajuba, onde os habitantes do lugarejo puderam então se ver impressos em seus objetos pessoais. Posteriormente foi realizada uma exposição na capital, Belém , para a qual os habitantes da pequena cidade de Nazaré do Mocajuba foram convidados.
O pequeno e longínquo vilarejo ganhou visibilidade global, e os rostos esquecidos, com a intermediação da fotografia passaram a constituir a memória pessoal de cada um.
Os tecidos contendo a arte serigráfica estão no acervo particular de Alexandre Sequeira e participam de exposições.
Alexandre realizou diversas fotos dos habitantes locais que penduraram os tecidos contendo suas fotos em locais de destaque de suas residências e que foram escolhidos por eles próprios. As fotos resultantes são comercializadas e o valor retorna para melhorias na comunidade.
Meu mundo Teu
– a fotografia como ferramenta de conhecimento da realidade pessoal e do outro
Neste outro universo de trabalho, Alexandre Sequeira propõe a dois adolescentes que não se conhecem, Tayná uma menina da cidade de Belém e Jefferson, um rapaz morador da ilha do Combú na região amazônica que iniciem uma correspondência através de cartas (detalhe, na ilha de Combú não existe luz elétrica e consequentemente computadores). Após um período de troca de cartas os dois passam a tomar conhecimento da realidade um do outro e Alexandre propõe que iniciem uma troca de fotografias pessoais e de seus locais de domicilio, fotos essas que são realizadas com uma pinhole de construção artesanal. Posteriormente, com o mini laboratório que o professor leva consigo até os locais, cada um revela a foto do outro e descobre uma realidade diversa. Dessa forma, os adolescentes passam a se conhecer um pouco mais através de imagens.
Em um outro período foi proposto aos adolescentes que experimentassem realizar fotos com uma outra câmera artesanal, porém esta com dois orifícios de entrada de luz e cada um dos participantes fez a foto com um dos orifícios enquanto o outro orifício permaneceu tampado. Quando a mesma câmera esteve nas mãos do segundo participante foi utilizado o outro orifício para emulsionar a mesma folha de papel fotográfico, fazendo com que as duas realidades fossem mescladas na mesma foto, e aquele que tirou a ultima foto revelou a fotografia, tendo assim a surpresa de ver as duas imagens das duas realidades em conjunto.
A parte seguinte desta proposta de troca de imagens e amizade foi utilizar uma câmera convencional analógica, aonde ambos utilizaram o mesmo filme, sobrepondo os fotogramas de suas realidades, tendo como resultado imagens que confundiam diferenças e semelhanças e que também apontavam para novos significados uma vez que inevitavelmente representar o outro implica em representar-se também.
No final de tudo, ambos os participantes acabaram por adquirir uma nova visão de seus mundos e do mundo que pertence a uma outra realidade próxima e ao mesmo tempo diversa.
Entre Lapinha da Serra e o Mata Capim
– a fotografia como interferência positiva no meio
Alexandre finalizou sua palestra falando sobre sua dissertação de Mestrado, defendida na UFMG, que resultou em uma experiência artística desenvolvida no interior do Estado de Minas Gerais, de janeiro de 2009 a junho de 2010, a partir do encontro entre ele, um menino e seu avô na pequena cidade de Lapinha da Serra, interior de Minas Gerais.
Ao procurar um local para iniciar o seu trabalho de mestrado, quando estava em um descampado, o professor e fotógrafo encontra-se com um menino que lhe pergunta o que faz por ali e se apresenta como guia local. Esse pequeno guia de nome Rafael irá se transformar em um dos personagens desta história encantada.
Em uma noite calma na pequena cidade mineira, Alexandre andando pelas ruas desertas ouve um som de cantoria e tambores ao longe, vai até o local e encontra um grupo de pessoas que munidas de poucos instrumentos entoam composições de autoria própria e parecidas com um lamento. Ao perguntar sobre essa cantoria, o pesquisador recebe a informação de que essa cantoria acontece periodicamente e é conhecida como “Batuque”, e que tem como um de seus organizadores um senhor de 84 anos, conhecido como “Seu Juquinha”. Em um dos intervalos da cantoria, Alexandre é apresentado ao “Seu Juquinha” que vem a saber que é avô de Rafael.
No dia seguinte, o fotógrafo e pesquisador conhece um pouco melhor as pessoas da vila e como de praxe recebe algumas encomendas de restauração de fotos, o que realiza com o prazer de manter ainda existente a memória fotográfica dessas pessoas.
Um tarde, ao procurar um bom local para fotografar, o fotógrafo e seu guia passam por uma frondosa mangueira, o guia não tarda a apressar o fotógrafo dizendo “vamos logo, precisamos sair daqui! Corra e não olhe para trás” e saiu em disparada. O fotógrafo sem entender nada, mas com seu sentido de autopreservação em funcionamento sai também correndo, ao atingirem uma certa distância do local param e Alexandre pergunta a Rafael o porque de tanta correria, e o menino responde: “ali é o local aonde aparece a mulher do pé de manga para assombrar os que estão próximos”.
Discos voadores
Em seu retorno à cidade, Alexandre entrega as encomendas dos habitantes locais e, como o seu retorno coincidiu com o aniversário de Rafael, lhe dá de presente uma pequena câmera fotográfica digital.
De posse de uma câmera fotográfica, Rafael conduz Alexandre a perceber Lapinha da Serra por outro ponto de vista, numa ordem que, em certos casos, não corresponde à realidade original, mas autentica uma série de outras ficções idealizadas. Ameaças de invasão de discos voadores (um dos tantos elementos das estórias de Rafael) ou aparições de figuras lendárias como a Mulher do Pé de Manga são apenas alguns dos temas da crônica visual que Rafael passa a registrar com sua pequena máquina fotográfica sobre os acontecimentos que animam sua vida em Lapinha da Serra.
Em um dos dias em que esteve em Lapinha da Serra Alexandre se viu envolvido por Rafael em um insólito projeto, iriam construir uma armadilha para discos voadores. E eis que o pesquisador se vê carregando diversos pedaços de madeira para construir tal armadilha em um descampado, aonde os dois amigos passaram quase toda a noite aguardando os extra-terrestres e fotografando o local de espera.
Mata Capim
O terceiro personagem de importância nessa pesquisa e projeto é “Seu Juquinha”, avô de Rafael e possuidor de um repertório de estórias e lendas locais que se mesclam com a realidade. “Seu Juquinha” possui um comportamento quase eremita, sendo que passa longos períodos do dia afastado da cidade, em um local chamado Sitio Mata Capim para onde ele caminha diariamente a distância de três quilômetros desde Lapinha da Serra e retorna a mesma distância ao cair da tarde, alí ele vive afastado do progresso lento pelo qual passa a cidade e que o assusta como se fora uma invasão de seres extra-planetários. Alexandre foi convidado por “Seu Juquinha” para ir com ele ao Mata Capim, onde passaram momentos em que “Seu Juquinha” apresentou ao fotógrafo todo o repertório de intrigantes imagens orais que guarda consigo.
Nesse momento as relações se estabelecem a partir do convívio e encontro entre os olhares e interpretações de mundo de Alexandre, Rafael de 13 anos e Seu Juquinha, de 84, tecem laços que os aproxima enquanto permanentes construtores de sonhos, fantasias e desejos.
A mulher do pé de manga
Numa noite Alexandre propõe a Rafael que junto com uma amiga que havia viajado para Lapinha com o pesquisador, fossem munidos da máquina fotográfica, de um tripé e de uma lanterna ao beco aonde, segundo ele, a Mulher do pé de manga costuma aparecer. O motivo da ida ao ermo lugar era realizar um registro fotográfico de uma aparição daquela misteriosa figura. O convite fez com que, a princípio, Rafael arregalasse os olhos em sobressalto e descrença, mas, passada a surpresa inicial, foi aceito com muito interesse e curiosidade.
Ao chegarem ao local, orientados apenas pelo foco da lanterna que riscava aquela noite sem lua, escolhem um ponto para montar o tripé e fixar a máquina fotográfica numa angulação de baixo para cima de modo a enquadrar parte da copa da frondosa mangueira e qualquer ação que porventura acontecesse em sua base. Rafael posicionou-se junto à máquina, com a missão de efetuar o registro fotográfico. Alexandre convida sua minha amiga a posicionar-se na base da mangueira, emprestando sua silhueta, para que nela, a mítica figura que até então só conhecia através de relatos de seu companheiro, pudesse finalmente se revelar. E assim segue a história no relato do próprio Alexandre Sequeira:
“Regulamos o equipamento para que, durante todo o tempo que Rafael mantivesse pressionado o botão que deflagra o registro fotográfico, qualquer presença de luz no local fosse ininterruptamente capturada. Após posicionar-me atrás da modelo, apaguei a luz da lanterna, o que determinou nosso mergulho na mais completa escuridão. O breu da noite e o silêncio que a partir de então tomou conta do beco, marcava o início de nossa documentação. Rafael deu a largada, pressionando o botão do obturador da máquina, que assim se manteria por todo o tempo do registro. Em seguida, foi a minha vez de acionar a lanterna e percorrer lentamente com seu foco toda a parte posterior do corpo de nossa modelo. Em função de minha posição, a máquina fotográfica não era capaz de registrar minha presença, capturando apenas uma aura luminosa que demarcava a silhueta de uma figura feminina. Após a captura desse contorno, e enquanto Rafael mantinha o botão do equipamento acionado, a lanterna foi mais uma vez desligada, e na escuridão do beco, eu e a modelo abandonamos nossa posição inicial, deixando a partir de então, apenas a frondosa mangueira como único elemento presente no campo focal. Dava-se assim o início da última etapa de nosso registro. Um foco de luz da lanterna voltou a iluminar a cena, agora percorrendo lentamente toda a extensão do tronco e a copa da árvore. Por fim, a lanterna foi definitivamente desligada e Rafael deixou de pressionar o botão da máquina, encerrando assim o ensaio fotográfico.
O tempo que o equipamento levou para processar todas as informações transcorridas ao longo de nossa experimentação foi marcado por uma grande ansiedade minha, de minha amiga e, em especial, de Rafael, que até então, parecia não acreditar muito na eficácia daquela ação. Por fim, a aparição da imagem no monitor da máquina foi recebida com surpresa e um grito entusiasmado de Rafael: – É ela! A Mulher do pé de manga. Eu sabia que ela existia!”
Ao ver a foto, Seu Juquinha dirigiu o dedo indicador para o espectro luminoso que se confundia com a imagem do tronco da mangueira e proferiu o seguinte comentário:
“Os antigos da vila sabem que ela realmente existiu. Ela veio de outro lugar muito tempo atrás para casar com um morador daqui. Eles moraram naquela casa que até hoje está abandonada logo na entrada do beco, mas ela morreu tempos depois do casamento e o marido, triste, foi embora e nunca mais voltou. O pé de manga fica no terreno que dá para os fundos da casa, e dizem que ela ficava sentada ali vendo o tempo passar. Acho que sua aparição não é para fazer o mal. Ela gostava muito daqui. Acho que ela volta sempre para cuidar do lugar.” (Sequeira, Alexandre Romariz – ENTRE LAPINHA DA SERRA E O MATA CAPIM.FOTOGRAFIA E RELAÇÕES DE TROCAS SIMBÓLICAS.UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS – Escola de Belas Artes – 2010)
Segundo Alexandre Sequeira a imagem da Mulher do pé de manga é um dos mais emblemáticos pontos de encontro entre a fantasia de Rafael e as memórias de Seu Juquinha. Ficção e realidade interpenetram-se, uma dando sustentação à outra. Como metáfora de uma existência concreta, a sinistra figura que aparece na imagem, é também imediatamente reconhecida pelo coletivo. Assim como Rafael, Seu Juquinha e os demais moradores de Lapinha se apropriam de aspectos que lhes são conhecidos, para estabelecer, a partir do contato com a imagem, uma nova versão do dado concreto, optando pela fabulação justamente por acreditar na ilusão como a melhor estratégia para resguardar o dado real.
Resultado
É dessa incursão pelas dobras do real que ele seleciona imagens que se convertem em uma série de cartões-postais que passam a ser ofertados a outros visitantes da vila, resultando na ressignificação de diversos valores do local. Com o avô de Rafael – Seu Juquinha –, Alexandre Sequeira capta, edita e grava um CD com toadas compostas pelo antigo morador da vila.
A fotografia apresenta-se como um instrumento de aproximação e troca de impressões de mundo. O trabalho se afirma muito mais na relação que se estabelece do que na fotografia propriamente dita. Nesse sentido, a fotografia assume um caráter de documento construído a várias mãos.
O conjunto de fotografias produzidas ao longo dos dois anos pelo artista e por Rafael é guardado por ambos –, como um banco de dados passível de diferentes interpretações. Do mesmo modo, os relatos de Seu Juquinha, que por tantas vezes conduziram Sequeira por entre palavras, pausas ou entonações, no desafio de subverter os regimes do visível e do invisível, também servem como elemento indutor de ressignificações da vida em Lapinha da Serra.
Os registros sonoros desses encontros, fragmentos de conversas e sons da ambiência do lugar, compõem uma partitura sonora que é também encaminhada de volta à vila, como contribuição ao trabalho educativo desenvolvido por alguns moradores no Espaço Cultural situado ao lado da pequena igreja local.
A intenção é que o material possa servir como outra forma de tratar a história, a memória e as qualidades de Lapinha da Serra, junto às crianças e adolescentes, assíduos frequentadores daquele espaço; como um meio de replicar a fala de Seu Juquinha – figura tão importante para a vila –, dando ao passado através de sua permanente revisão, um sentido de retomada, essa sim, uma forma nobre da memória.
http://holofotevirtual.blogspot.com.br/2012/05/alexandre-sequeira-fala-das-relacoes-da.html
Conclusão
O mestrado realizado por Alexandre Sequeira em Minas Gerais é um marco na pesquisa em arte. Ele se situa na fronteira invisível entre a arte e a vida em toda a sua dimensão simbólica. É o artista que interferindo positivamente no meio onde pesquisa e vive.
Fica a dica – tendo oportunidade de assistir a uma palestra do professor Alexandre Romariz Sequeira não perca. Sua explanação pessoal é muito melhor do que qualquer palavra escrita.
=============================================
Você pode conhecer a dissertação de mestrado de Alexandre Sequeira no endereço a seguir:
================================================
Alexandre Romariz Sequeira,1961. Belém-Pa.
Formado em arquitetura pela Universidade Federal do Pará-UFPa em 1984, é professor do Instituto de Ciências da Arte da mesma universidade, Especialista em Semiótica e Artes Visuais e Mestre em Arte e Tecnologia pela Universidade Federal de Minas Gerais-UFGM. Artista plástico e fotógrafo, desenvolve trabalhos que utilizam a fotografia como vetor de interação e troca de impressões com indivíduos ou grupos.
Artista plástico e fotógrafo, é Mestre em Arte e Tecnologia pela UFMG e professor do Instituto de Ciências da Arte da UFPa.
Desenvolve trabalhos que estabelecem relações entre fotografia e alteriadade social, tendo participado de diversas exposições e festivais no Brasil e exterior, podendo-se destacar “Une certaine amazonie” em Paris/França; Bienal Internacional de Fotografia de Liège/Bélgica; Exposição no Centro Cultural Engramme em Quebec/Canadá; X Bienal de Havana/Cuba; Paraty em Foco 2009; FotoFestPoa 2010 e 2011; Festival de Fotografia de Recife 2010; Simpósio e exposição “Brush with Light”, na Universidade de Arte Mídia e Design de NewPort no Reino Unido, Festival Internacional de Fotografia de Pingyao/China, exposição “Gigante pela própria natureza” em Valência na Espanha; “Geração 00 – a nova fotografia brasileira”; e Projeto Portfólio no Itaú Cultural em São Paulo/Brasil. Tem obras no acervo do Museu da UFPa, Espaço Cultural Casa das 11 Janelas; Coleção Pirelli/MASP e Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul.