O Homem que Roubava Fotos
O título deste artigo é uma gambiarra bem medíocre do livro de Markus Zusak (A Menina que Roubava Livros). Mas tal mediocridade é influenciada pelos motivos que me levaram a escrever este.
Normalmente quando escrevo algum post ele vem revestido de uma série de reflexões sobre assuntos nobres e importantes, dos quais julgo que possam agregar aos leitores do Fotografia DG. Pois bem, o que me motivou hoje a escrever foi exatamente um sentimento contrário, e que descrevi acima: mediocridade.
Explico: Ontem, dia 13 de agosto, tive o desprazer de ver um sujeito que se diz fotógrafo copiar trabalhos de outros profissionais e colocar a sua marca d’água sobre as fotos, dizendo-se o autor das mesmas, e publicando estas no Facebook com nomes de clientes fictícios.
Tive acesso a esta informação através de outros fotógrafos que também compartilharam o link do “artista”, divulgando também a fonte de onde teria copiado os trabalhos.
Foram lesados fotógrafos americanos e também uma fotógrafa de Bauru-SP.
A esquerda a foto utilizada indevidamente no Facebook pelo fotógrafo, a direita a origem da mesma.
Uso no título deste artigo a palavra “roubar”, mas juridicamente este não seria o termo correto para designar a ação deste sujeito. O roubo se caracteriza pela subtração de coisa alheia móvel através do uso de violência ou grave ameaça.
A aplicação correta do termo seria a da violação do Direito do Autor, criminalmente prevista no artigo 184 do Código Penal, e civilmente pela lei 9.610 de 1998.
A expressão foi utilizada apenas para enfatizar a situação e o sentimento de perda que eu, e inúmeros outros fotógrafos que também compartilharam e denunciaram, por empatia, também experimentamos.
Embora possa parecer exagero digo que experimentei tal sentimento por saber o quanto é custoso adquirir um equipamento, participar de cursos e workshops, comprar livros, passar horas estudando e treinando, ter todo cuidado para conquistar e fidelizar uma clientela e adquirir um estilo próprio e ser fiel a ele. Isso sem contar o aspecto subjetivo da construção de uma carreira e de um estilo e que também possui um valor muito alto (arrisco dizer que imensurável).
Por saber, e por viver, toda essa dificuldade da longa jornada da construção e manutenção de um nome e de uma imagem, é realmente revoltante ver outro “profissional” apropriando-se de toda essa árdua batalha com um simples clique no botão do mouse.
Foto da modelo Cintia Dicker para a marca americana American Eagle, também utilizada indevidamente.
Este caso não é único e nem o primeiro, mas serve como um alerta!
Não dá para colocarmos a culpa somente nas facilidades e perigos da internet. O plágio, a apropriação, a violação de direitos autorais não é algo novo, não surgiu com a invenção das mídias sociais ou do Google. O que surgiu foi uma ampliação do volume de informação, um maior acesso dessas informações e por consequência uma maior facilidade em lesar ou violar as leis que protegem os autores.
Por achar que a Internet é uma terra de ninguém, onde tudo se faz livremente, alguns se veem no direito de fazer aquilo que bem entendem, não respeitando assim as leis e não respeitando o trabalho digno de outros profissionais.
Mas qual o sentido prático destas palavras? Será que um texto esbravejando contra este tipo de crime vai realmente coibir a ação de novos mal intencionados?
É possível que não! Este não foi o primeiro caso do gênero que vimos, e tenho plena certeza que não será o último. Mas então partimos para uma estrada com duas vias e um caminho para escolher: ou cruzamos os braços e deixamos que tudo aconteça de qualquer maneira ou então lutamos e nos unimos para defender os nossos direitos e tentamos evitar casos como esse.
Mas como é possível coibir atitudes como essa? Recriminando, punindo, criando leis mais severas?
Talvez a criação de leis mais severas seja um passo para a maior proteção dos nossos direitos, mas com certeza é um passo muito pequeno.
As cadeias brasileiras (arrisco dizer de todo mundo) nos dão a maior prova de que somente leis rígidas não são o freio motor daqueles que estão impelidos a cometer um crime.
Aumenta-se o tamanho do muro, mas o muro vai ser apenas um muro mais alto e ainda possível de pular.
A resposta para este problema é bem conhecida: educação!
É através da educação dos nossos profissionais, e daqueles que estão querendo ser, que podemos tentar evitar (ao invés de coibir) atos e atitudes como estas que temos visto cada vez com mais frequência.
O mercado tem nos dado sinais que estamos no caminho certo: há um número maior de universidades, de cursos, de congressos e workshops, de literatura. É através destes instrumentos que criaremos uma maior consciência dos profissionais da importância de preservar o seu trabalho e criação, e de respeitar o trabalho e criação do concorrente.
Outro elemento que agrega à educação é a união dos profissionais (como demonstrado ontem) visando denunciar e rechaçar aqueles que não pactuam da honestidade e dignidade do trabalho conquistado através da inspiração e transpiração.
Aos que iniciaram a leitura deste artigo buscando alguma resposta ou ajuda para tentar impedir que lhes ocorra o mesmo, me desculpem, mas não posso ajudá-los.
Infelizmente não é o uso de marca d’água, filtros, plugins, etc. que irá garantir a total segurança das suas imagens. É claro que não devemos ser displicentes, devemos sim tomar toda e qualquer medida que esteja ao nosso alcance para evitarmos estes problemas. Mas a grande verdade é que mesmo com toda precaução ainda estamos sujeitos a estes crimes.
Ou seja: vamos aumentar o muro, colocar uma cerca elétrica e comprar um cachorro, mas ainda sim alguém pode entrar na nossa casa.
Fica este artigo então como um manifesto e um pedido de atenção! Precisamos fomentar cada vez mais a educação, ampliar os canais de comunicação e os debates, e acima de tudo nos unirmos para que possamos nos proteger!
E nunca é demais lembrar: caso tenha sido violado no seu direito de autor, procure um advogado! Embora a educação ainda seja a melhor forma de coibir estas atitudes, a repressão através da lei é o instrumento mais eficaz que temos para ceifar este sentimento falso de impunidade que é tão vivo no mundo virtual.
Um abraço,
Diogo Ramos
Obs.: O presente artigo representa a opinião do colunista, sendo de sua inteira responsabilidade.