O número guia e a “fitametria”
O número guia (NG, ou GN, em inglês) é a chave para fitametrar corretamente. Não, não foi um erro de digitação. Vamos usar uma fita métrica e um pouquinho (não se assuste) de matemática para encontrar a exposição correta relacionando abertura do diafragma, ISO, potência do flash, e distância do flash em relação ao sujeito. Como faço para saber o número guia do meu flash? Fácil. Está no manual de instruções, nas especificações técnicas do equipamento. Normalmente os flashes trazem um número guia para o cálculo em metros, e outro para pés. Calcular a exposição também é simples.
Suponhamos que nosso flash imaginário tem um número guia 22 (métrico). Isso quer dizer que para uma distância de 1m, em carga máxima (1/1), e ISO 100, a abertura do diafragma deverá ser f22 para se conseguir a exposição correta. Temos uma exposição perfeita nessas condições, mas e se quisermos uma abertura maior, ou aumentar a distância entre o flash e o sujeito da foto? Para isso precisamos nos lembrar de duas regras elementares na fotografia.
A primeira é a lei da reciprocidade. Sempre que eu abro um ponto na exposição, de f8 para f5.6, por exemplo, ou de 1/60 para 1/30, ou ainda no ISO (ex: de 100 para 200), o dobro de luz atinge nosso sensor. Da mesma forma, quando fechamos um ponto (imagine todos os exemplo citados, só que ao contrário. Quero evitar a fadiga de escrever tudo de novo), recebemos a metade da luz. Sempre que encontramos a exposição para uma cena e queremos alterar um dos valores, outro valor deverá ser alterado da mesma forma, para compensar. Exemplo: encontramos a exposição para ISO 100, 1/125 e f8. Se quisermos mais profundidade de campo e fecharmos o diafragma em um ponto, devemos compensar com um ponto no ISO, ou na pontência utilizada no flash (aqui suponho que você já leu os artigos do Vernaglia sobre fotometria e flash e sabe que a velocidade influencia apenas na luz ambiente, e não na luz do flash).
Outro fundamento que devemos nos lembrar é a lei do inverso do quadrado da distância. É simplesmente a lei que rege o universo. Gravidade, ondas de rádio, radiação etc. Muita coisa no mundo (e fora dele) obedece esse princípio. Para entendermos como isso se aplica à luz, vamos pensar de trás pra frente. Distância, quadrado, inverso. Exemplo: já achamos a exposição para 1m. Distância = 1; quadrado = 1²; inverso = 1/1². O resultado é 1. Temos exatamente a luz que queremos, sem perda. Mas se afastarmos o nosso flash para 2m, temos: distância = 2; quadrado = 2²; inverso = 1/2² = 1/4. Temos somente 1/4 da luz que encontramos anteriormente! A 3 metros, a mesma lógica: 3m; 3²; 1/9.
Voltando à nossa fitametria, jogando tudo no liquidificador e levando ao forno até dourar, chegamos à seguinte conclusão:
O número guia do nosso flash imaginário é 22, lembram? De novo, isso quer dizer que medindo exatamente 1m na nossa fita métrica, ISO 100 e carga máxima, o diafragma deve ser é f22. Mas eu preciso de mais espaço. Quero afastar meu flash para 2m. Sabemos que a 1m temos f22, e sabemos que afastando para 2m temos 1/4 da luz que tínhamos a 1m. Sabemos também que se abrirmos um ponto, o dobro da luz entra. Ora, ora, ora… Quer dizer então que, uma vez que encontramos a exposição para 1m, é só abrirmos 2 pontos para que o quádruplo de luz entre e, assim, chegamos à exposição para 2m? Exatamente! Se a 1m temos f22, a 2m teremos f11! Mas e se eu quiser f11 a 1m de distância? Moleza! Se a 2m perdi 1/4 de luz e compensei abrindo 2 pontos no diafragma, se voltarmos para 1m teremos o quadruplo de luz a f11, certo? Então que tal manter f11 a 1m e diminuir a potência do flash? de carga máxima, 1/1, para 1/4 de carga. Bingo! Temos exatamente a mesma exposição!
“Mas o número guia do meu flash é 28 e a abertura mínima da minha lente é f22! Ai, meu Deus! Vou morrer!“. Para de drama. Perceba que fechando um ponto de f22 temos f32. E que sua câmera provavelmente trabalha em terços. f28 seria 2/3 de ponto, nesse caso. É só diminuir 2/3 na potência do seu flash e você encontra exatamente a mesma exposição para um flash de número guia 22 em carga máxima. Lembre-se: tudo está relacionado. ISO, abertura, potência do flash, e distância do flash em relação ao objeto fotografado. Quando encontramos a exposição que queremos e alteramos um deles, algum outro deve ser alterado para manter a mesma exposição.
Vamos à prática! Pegue sua câmera, seu flash, sua fita métrica e seu raciocínio rápido intergalático e teste todas as possibilidades, pensando nas duas leis fundamentais de que falamos.
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