Minha máquina não veio com olhar fotográfico
Assisti a uma palestra de um aspirante a fotógrafo, devidamente munido de uma 5d MarkIII com uma lente 70-200mm, que dava como verdade absoluta que para fazer uma boa foto você não precisa de uma boa máquina, não precisa ser profissional e não precisa estudar! Por ironia eu estava cobrindo o evento…
Fiquei pensando que talvez isso esteja sendo mais propagado do que deveria e tentei ver até onde isso poderia ser verdade.
E tudo isso acabou me levando à tona da velha discussão dos equipamentos ruins que fazem boas fotos e as surpreendentes fotos ruins saídas de ótimos equipamentos e também tem tomado proporções bem peculiares nos últimos tempos para mim.
Como eu ministro um workshop de fotografia para amadores, tenho contato estreito com máquinas bridges e de entrada e acabo vendo muitos alunos tirando leite de pedra. Máquinas essas que certos fabricantes fazem com a certeza que jamais a pessoa irá utilizar o modo manual, cheias de menus e submenus complicadíssimos e muitas sem indicação de fotometria, aliás, dois modelos me chamaram bastante a atenção: Uma a fotometria é mostrada diretamente no LCD da máquina já no resultado da foto sem nenhuma indicação de histograma ou algo que o valha para saber se a foto está correta, sub ou superexposta, ou seja, só seu olho e não pode ter incidência de luz, senão a foto já era. E a outra além de não ter indicação, era preciso bater a foto primeiro para saber se realmente a exposição estava correta?!
Em contra partida, já vi fotógrafos “profissionais” fotografando eventos no modo automático ou simplesmente ficando experts em programas de pós-produção com muitos filtros, às vezes publicando sequências de fotos de exposição duvidosa, tremidas ou com balanço de branco errados.
E aí vem a questão mais importante de uma boa fotografia: O Fotógrafo!
Diariamente respondo perguntas aflitas de qual equipamento eu compro? E entre essa e aquela máquina? Qual lente?
Na prática você vai perceber que a necessidade do equipamento vai mudando conforme você evolui como fotógrafo e é aí que você descobre, às vezes de maneira dolorosa, que não adianta ter 18MP de foto estourada, mal enquadrada, amarelíssima ou cheia de ruído.
Então o primeiro passo é DOMINAR sua máquina, seja ela uma câmera phone, de bolso, bridge, mirrorless, entry-level, cross, full-frame ou high-level! Isso inclui ler o manual quantas vezes forem necessário e testar, testar e testar.
O Segundo passo é dominar as técnicas básicas, entender como funciona a fotometria, balanço de branco, velocidade, abertura, isso entre tantos outros parâmetros. Fazer um curso, se necessário, mas sempre estudar, estudar e estudar.
Feito os dois primeiros passos, começa a descobrir que ainda falta algo: O olhar fotográfico, tratado normalmente como um dom, algo nato e não algo da esfera da técnica e do trabalho. Poderíamos nos aprofundar bastante nesse item, mas acredito que o mais útil aqui é dizer que é possível treinar esse olhar. Li em algum lugar que o fotógrafo precisa superar a preguiça do olhar e acho essa uma ótima definição.
A minha dica mais simples é que você acompanhe os trabalhos dos fotógrafos que você gosta, veja como ele enquadra ou como ele lida com as proporções. Estude as regras de enquadramento e composição e… quebre-as. Aos poucos você vai perceber as mudanças no seu olhar.
A conclusão que eu chego é que o palestrante tinha até razão pra dizer que você não precisa de uma boa máquina pra fazer uma boa foto e nem ser profissional, mas é IMPOSSÍVEL fazer uma boa foto sem ser um bom fotógrafo e para isso você tem que estudar muito!
Bons estudos e ótimas fotos!