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Controle de qualidade, você faz?
Este artigo é sobre um tema que converso com meus alunos e com outros fotógrafos profissionais, e quanto mais levanto este assunto mais vejo que é totalmente incomum fotógrafos realizarem algum tipo de controle de qualidade sobre seu próprio trabalho.
Quando eu falo em qualidade e ter algum controle sobre ela, não me refiro a olhar para as fotos e achá-las bonitas ou feias, bem compostas ou não, apagar as que não nos agradam e manter aquelas que nos fazem ter orgulho do momento captado, não é isso.
Estou me referindo a controle de qualidade preciso, mais próximo ao que é praticado pela indústria. O lado mais matemático e estatístico de um sistema de controle que normalmente é evitado ou desconhecido por fotógrafos.
A idéia é estabelecer um grupo de critérios e realizar uma contagem sobre eles, descobrindo porcentagens de erros e acertos para cada um em todos os trabalhos que você faz, ao longo do tempo você terá dados para saber onde erra mais e em quais assuntos você deve se aprimorar e corrigir as falhas.
Parece complicado mas não é, veja um exemplo de como proceder para implantar um eficiente sistema de qualidade em seu trabalho fotográfico:
Selecione alguns critérios técnicos, estes são sempre matemáticos, pouco afetados pela subjetividades do gostar ou não gostar. Os critérios básicos são foco, profundidade de campo, tremidos (tempo de obturador), exposição (fotometria), ruído de imagem (ISO) e balanço de branco (cor).
Com estes critérios você sabe se sua foto está focada, se a nitidez da área da profundidade de campo está adequada (e consequentemente se a escolha do diafragma foi correta), se há tremidos (e consequentemente se escolheu o tempo de obturador correto), se o ruído de imagem não prejudica a fotografia (para saber se sua escolha de ISO foi adequada) e por fim se as cores são o que deveriam ser, devido a correta ou equivocada escolha de balanço de branco (white balance).
Coloque os critérios em uma planilha e faça uma contagem para lotes de 100 fotografias. Em cada 100 imagens, verifique quantos erros em cada aspecto técnico, some o total de falhas para ter usa porcentagem sobre o total de fotos.
Se em um lote de 100 imagens você errou, por exemplo, o foco de uma, detectou tremidos em três e teve cores ruins em dez, podemos concluir que é necessário treinar mais o balanço de branco e ter mais atenção com o tempo do obturador, no foco você parece ter uma boa precisão. Ao somarmos os resultados vemos que você cometeu 14 erros, ou seja, 14% das imagens não tem qualidade para serem entregues ao cliente.
Eu defendo que uma margem de erro de 1% é uma boa margem para fotógrafos iniciantes. Em cada 100 fotos, você pode errar apenas um aspecto técnico e uma única vez, tendo acertado todos os outros, algo como ter uma foto tremida enquanto as outras 99 estão bem focadas, bem expostas e com as cores adequadas.
Para que o controle dê certo e você tenha real conhecimento sobre suas falhas técnicas, esqueça que sua câmera tem um botão para apagar imagens, não apague, deixe para fazer isso em casa ao verificar o trabalho no computador. Complete sua planilha e assim tenha real noção de seus erros.
Na primeira vez em que realizar este controle levará um susto, perceberá que erra muito mais do que imagina, mas terá encontrado uma forma para guiar seus treinos e estudos para se tornar cada vez mais preciso e eficiente.
Recentemente fiz um trabalho que durou uma semana, e em seu todo teve pouco mais de 600 fotografias feitas. Destas, errei o tempo de obturador de uma, apenas uma que teve de ser apagada pois estava tremida. A câmera estava no tripé, mas ou esbarrei nele ou a trepidação de algum caminhão passando na rua gerou o movimento. Tudo o mais estava certo.
Pensei comigo: “é apenas uma, errar é humano e ter falhado uma vez em mais de 600 é um bom resultado”. Com este raciocínio em mente gravei o DVD com as fotos, imprimi as provas e levei para o cliente. Após dez ou quinze minutos examinando o material ele levanta os olhos e diz “estou sentindo falta de uma fotografia, que mostre melhor esta parte da empresa”. Era aquela foto, a tremida, maldita tremida. O trabalho inteiro foi aprovado com elogios, mas faltava uma. Entendi que mesmo um aparentemente ótimo resultado estatístico pode não ser suficiente e isto me fez ficar ainda mais atento.
Quando fiz a planilha pela primeira vez, há cinco ou seis anos, eu tinha uma margem de erro de quase 10%, ali defini uma meta de em um ano baixar para 1%. Treinei, estudei e procurei melhorar minha concentração a cada trabalho. Ao final do período eu tinha atingido o objetivo de ter apenas 1% de erro técnico, aí resolvi ir além e estabelecer outra meta, de 0,50%, depois 0,25%, ou seja, uma foto errada em cada 400 feitas. Quando atingi essa meta parei de realizar o controle até que chegou esse trabalho. Uma em 600 não foi suficiente.
Voltei às metas e a que quero atingir é ambiciosa, errar apenas uma em cada 1000 fotos.
Muitos podem apontar que ter uma foto tecnicamente perfeita não significa ter uma boa foto em mãos, e também podem dizer que uma excelente fotografia pode não estar perfeita dentro dos conceitos técnicos. Isso é verdade, há momentos em que você não terá tempo para um ajuste ideal e deverá conseguir a foto do jeito que for possível pois é melhor ter a imagem captada do que perder um momento que nunca irá se repetir, mas mesmo isso não impede que tentemos atingir a perfeição técnica, devemos aqui nos inspirar nos grandes esportistas, casos em que um milésimo de segundo ou um milímetro faz toda a diferença entre uma medalha de ouro ou uma derrota.
Por fim, devo dizer que é possível ter um controle de qualidade paralelo, sobre aspectos subjetivos como a estética, composição, a beleza das imagens, mas tenha a clareza de que controlar estatisticamente critérios subjetivos é mais complexo do que parece, uma boa foto hoje pode deixar de ser daqui um ano ou dois, depende de modas, de seu estado de espírito ou humor na hora em que verifica as fotos.
Viaduto do Chá e Shopping Light (9 fotos)
por Armando Vernaglia
E você, adota algum controle de qualidade? Qual seu método? Comente, pergunte, opine, vamos trocar idéias para que todos possam melhorar seus trabalhos.
Voltamos a nos falar em 30 dias!
[]’s
Armando Vernaglia Jr
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